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20/06/2024

Você já ouviu falar em bexiga hiperativa?

Como a maioria das pessoas, imagino que não. Mas, após a leitura do artigo, tenho certeza de que identificará algumas pessoas de seu convívio que são portadores dessa disfunção.

Por definição, a bexiga hiperativa é aquela que não consegue reter a urina por tempo adequado, obrigando o indivíduo a urinar com mais frequência que o esperado. Não há maior produção de urina, tampouco, redução do tamanho da bexiga, como se imagina. Na verdade, a bexiga não permanece relaxada para o adequado armazenamento da urina. Contrações que deveriam acontecer no ato da micção, podem acontecer a qualquer hora. Os sintomas urinários geram impacto direto na qualidade de vida do paciente, tais como, tomar menos líquidos, acordar várias vezes durante a noite para urinar, usar absorventes ou até fraldas, sair menos de casa (nem sempre se tem banheiros disponíveis), dentre outros.

Com elevada prevalência, estima-se que cerca de 18% dos indivíduos desenvolverão esse quadro durante a vida. O maior fator de risco é o envelhecimento, com a prevalência maior que 30% na população acima dos 60 anos. Doenças neurológicas, diabetes, obesidade e consumo excessivo de cafeína também poderão predispor ou agravar o quadro da bexiga hiperativa.

O diagnóstico é fundamentado no histórico clínico, no exame físico e no monitoramento da frequência e volume miccional através de diário (2/3 dias) elaborado pelo paciente. Exames, tais como, ultrassom do aparelho urinário e urina rotina são frequentemente necessários para afastar outras afecções. Em casos específicos, um estudo funcional da bexiga poderá ser pedido pelo seu médico.

A boa notícia é que há ampla gama de tratamentos que minimizam os sintomas da bexiga hiperativa. Muitas vezes, pequenos ajustes de hábitos alimentares e de vida propostos pelo médico especialista podem impactar positivamente na melhora do quadro. O reforço da musculatura pélvica com auxílio de fisioterapia especializada também é uma poderosa ferramenta terapêutica. Para quadros mais sintomáticos, a prescrição de medicamentos específicos pode ser uma alternativa.

No âmbito terapêutico, para casos mais intensos, ainda existem duas ótimas alternativas. A toxina botulínica, velha conhecida nos consultórios de estética facial, é uma excelente ferramenta para o tratamento da bexiga hiperativa refratária. A aplicação do medicamento é feita diretamente na bexiga, por endoscopia urinária, sem a necessidade de internação e com reposta muito satisfatória. Entretanto, de forma análoga ao uso estético, o efeito se perde em alguns meses, necessitando de nova aplicação.

Talvez a cereja do bolo fique por conta de outra técnica, a neuromodulação sacral. Trata-se de procedimento em que um pequeno eletrodo é implantado junto ao osso do cóccix, onde nasce a inervação para a bexiga, com anestesia local. O objetivo é criar um campo eletromagnético que envia informações aos centros cerebrais de comando vesical, devolvendo informações para um melhor funcionamento vesical. Apenas para fins de melhor compreensão, funciona como um marcapasso cardíaco, mas para a bexiga. Como resultado, espera-se um índice de satisfação superior a 70% na melhora dos sintomas da bexiga hiperativa.

Espero que a leitura do artigo contribua para disseminação dos tratamentos disponíveis, que visam a melhora da qualidade de vida dos portadores de bexiga hiperativa.

. Por: Renato Teixeira Penna Mascarenhas, médico Urologista do Biocor Instituto/ Rede D’Or.