O setor de Transporte Rodoviário de Cargas é vital para a economia, assegurando que produtos e materiais cheguem a seus destinos de maneira eficiente. No entanto, o TRC é frequentemente alvo de equívocos e desinformação que podem prejudicar sua imagem e operação. Estou inserida neste meio desde pequena e estou há alguns anos à frente da presidência executiva do maior sindicato patronal do setor da América Latina, o Setcesp, e aqui estão cinco mentiras contadas sobre o Transporte Rodoviário de Cargas e os motivos pelos quais são falsas.
1. O TRC não está preocupado com a segurança das pessoas —Segundo dados da Polícia Rodoviária Federal, a maioria dos acidentes nas estradas brasileiras são causados por veículos de passeio, muitas vezes devido à imprudência, excesso de velocidade e direção sob efeito de álcool. Embora os caminhões estejam envolvidos em acidentes, não são os principais responsáveis. Os profissionais do transporte rodoviário passam por rigorosos treinamentos e seguem regulamentações severas, o que contribui para uma condução mais segura.
Um dos principais papéis das entidades de classe é justamente acompanhar de perto a capacitação e treinamento dos motoristas para que, além de realizarem seu trabalho da forma correta e no prazo acordado com o cliente, o façam com muita segurança, zelando pela sociedade enquanto estiverem na direção dos veículos de carga.
Durante o ano todo, especialmente em maio, o setor se mobiliza arduamente para difundir a Campanha de Maio Amarelo, organizada pelo Observatório Nacional de Segurança Viária em parceria com o Governo Federal, a fim de conscientizar não apenas os motoristas de caminhão, mas também a sociedade toda. No trânsito, sempre escolheremos a vida e o setor se preocupa intensamente com a segurança viária em nossas estradas, rodovias e também no perímetro urbano.
2. O setor é ineficiente, lento e parado no tempo — A eficiência do Transporte Rodoviário de Cargas melhorou significativamente com os avanços tecnológicos e a vasta regulamentação hoje existente, principalmente após a Lei 11.442/2007. Sistemas de rastreamento em tempo real, logística otimizada, telemetria, câmeras de segurança nas cabines, roteirização e planejamentos de rotas inteligentes, RNTRC, controle de jornada, etc., aumentaram a velocidade, a segurança e a eficiência das entregas. Além disso, a flexibilidade do transporte rodoviário permite que cargas cheguem a locais onde outros modais não conseguem acessar diretamente.
Seria até um tanto quanto redundante afirmar que um setor que está rodando todos os dias nas rodovias no país — e fora dele também — esteja parado no tempo. O TRC está cada vez mais agregando a tecnologia à sua realidade cotidiana, promovendo cursos, treinamentos, palestras, workshops, seminários… A lista é longa!
No Setcesp, por exemplo, oferecemos cursos e palestras constantemente para nossos associados e, temos também, a ULT (Universidade Corporativa de Logística e Transporte), que justamente tem como foco fomentar a educação e a capacitação contínua das empresas, inclusive nas práticas voltadas para ESG. Além disso, mantemos nossos associados sempre informados de toda mudança legislativa ou regulatória, de modo que seja aplicada corretamente e o mais rápido possível.
3. Caminhões causam mais danos às estradas do que os demais veículos —Embora veículos pesados causem desgaste nas estradas, a infraestrutura viária é projetada para suportar esses veículos. O problema maior é a manutenção inadequada das vias e a fiscalização insuficiente sobre a carga transportada, uma vez que infelizmente, podem haver transgressões com relação ao excesso de peso.
Quando as estradas são devidamente construídas e mantidas, os caminhões não causam danos excessivos. Programas de manutenção regular e investimentos em infraestrutura são fundamentais para garantir a durabilidade das estradas. Seja sob administração pública ou privada, é primordial que um país como o Brasil invista constantemente em suas rodovias, considerando que somos o 4º país com a maior malha rodoviária do mundo. Entre rodovias e estradas, pavimentadas ou não, somamos cerca de 1,7 milhões de quilômetros, de acordo com a 26ª edição da Pesquisa CNT de Rodovias.
Ainda temos um longo caminho a percorrer em termos de infraestrutura viária no Brasil, por isso que nossas entidades atuam fortemente neste sentido e avaliam anualmente as condições das rodovias.
4. O transporte rodoviário é ambientalmente insustentável e altamente poluidor — O TRC está cada vez mais comprometido com práticas mais sustentáveis. Os veículos mais novos são equipados com tecnologias que reduzem emissões, além de haver um crescente uso e estudos de combustíveis alternativos, como o biodiesel, os elétricos para entregas urbanas, o GNV, etc. Além disso, empresas estão implementando programas de logística verde, incluindo a otimização de rotas para reduzir o consumo de combustível e as emissões de carbono.
Programas como o Despoluir, coordenado pela CNT e Sest Senat, incentivam as empresas a realizarem a aferição de seus veículos visando a menor emissão de gases poluentes possível, corroborando com as práticas sustentáveis do setor. Desde seu início, em julho de 2007, até março de 2024 já foram feitas 4.432.328 aferições, com uma aprovação de 90,5%. Foram 27.080 empresas de transporte atendidas e 28.235 autônomos.
Este ano, o Setcesp realiza a 10ª edição do Prêmio de Sustentabilidade e, com o passar dos anos, pudemos acompanhar a mudança dos inscritos nas premiações, a evolução dentro das empresas e o impacto efetivo dos projetos nas organizações e no Brasil em si. Aqui, falamos em sustentabilidade há pelo menos 15 anos, por meio da primeira comissão que se chamava Comverde, hoje ela se chama comissão de sustentabilidade e é uma das mais ativas do setcesp.
Estamos caminhando para um transporte mais verde e o principal já estamos fazendo: estamos falando sobre isso. Há algumas décadas, este assunto não era ao menos debatido. Hoje já podemos entender o que precisamos fazer e como educar nossos colaboradores, colegas e parceiros sobre a importância de fazermos nossa parte no cuidado com o planeta.
5. A profissão de motorista de caminhão está em extinção —A profissão de caminhoneiro continua sendo essencial e está em transformação, não em extinção. A demanda do Transporte Rodoviário de Cargas permanece alta, e há uma carência de motoristas qualificados. As novas gerações de caminhoneiros estão se beneficiando de melhores condições de trabalho, tecnologias de apoio à condução e maior valorização profissional. Programas de treinamento e certificação estão atraindo novos profissionais, garantindo a continuidade desta importante carreira.
A verdade é que hoje o motorista precisa não só saber dirigir, mas também atuar com diversos equipamentos tecnológicos e aplicativos de controle, o que exige maior capacitação e qualificação. A tecnologia embarcada, a crescente exigência dos clientes e também a pauta ESG foi transformando a profissão.
Movimentos como o Vez&Voz incentivam os jovens, especificamente as mulheres, a ingressarem no setor também como motoristas, contribuindo para um novo mercado de trabalho, mais diverso, humano e inclusivo.
Nosso papel como entidade de classe é fomentar junto às empresas a constante valorização destes profissionais.
Essas são apenas algumas das muitas inverdades que sempre escuto por aí sobre o TRC. Desmistificá-las é essencial para reconhecer a importância desse setor e apoiar seu desenvolvimento contínuo. O transporte rodoviário de cargas não é apenas um componente crucial da economia, mas também um campo em constante evolução, adaptando-se às novas demandas e desafios do mercado.
. Por: Ana Jarrouge, executiva do transporte rodoviário de cargas, Ana Jarrouge é advogada de formação, especializada em direito do trabalho. É presidente executiva do SETCESP (Sindicato das Empresas de Transportes de Carga de São Paulo e Região), idealizadora do movimento Vez&Voz e diretora da Seção II do Transporte Rodoviário de Cargas da Confederação Nacional do Transporte (CNT).