Exposições de Christus Nóbrega e Vicente de Mello com duas mostras, “Dragão Floresta Abundante” e “Toda Noite”, em exibição a partir do dia 13 de abril (sábado), dão início a uma parceria entre o Centro Cultural Justiça Federal(CCJF), e o Instituto de Pesquisa e Promoção à Arte e Cultura(IPAC), que passa a realizar um novo e amplo programa expositivo com mostras coletivas e individuais de arte brasileira.
Localizado na Cinelândia, no centro do Rio, o Centro Cultural Justiça Federal (CCJF) ganhará um relevante incremento na sua programação de artes visuais. Suas galerias localizadas no primeiro e segundo andares do prédio histórico passarão a receber, em parceria com o Instituto de Pesquisa e Promoção à Arte e Cultura (IPAC), grandes exposições de arte brasileira. E essa trajetória será iniciada com duas exposições individuais dos artistas Christus Nóbrega e Vicente de Mello, com suas respectivas exposições: “Dragão Floresta Abundante” e “Toda noite”.
Christus Nóbrega, ou Lóngpènsẽn — que, em português significa “Dragão Floresta Abundante” – foi o primeiro artista brasileiro convidado para uma residência de três meses na Central Academyof Fine Arts (CAFA), em Pe#quim, dentro de um programa desenvolvido pelo Ministério das Relações Exteriores do Brasil. A mostra “Dragão Floresta Abundante” é o resultado desse tra#balho e na vivência do artista na China. Já Vicente de Mello, em comemoração aos seus 33 anos de carreira artística, reúne, na mostra “Toda Noite”, 13 séries emblemáticas de seu sofisticado trabalho de experimentação fotográfica em distintas técnicas e criações.
Dragão Floresta abundante, de Christus Nóbrega — Exposição revela a aventura do primeiro artista brasileiro em residência na CAFA/Pequim, na China. A mostra tem o patrocínio do Instituto Cultural Vale.
Durante seis meses, Christus Nóbrega se dedicou com afinco ao aprendizado do mandarim. Passaria três meses na China e queria garantir que conseguiria, pelo menos, “pedir um chá” – brinca. Afinal, estava diante de uma imersão relacionada a uma cultura milenar que não conhecida.
Para penetrar na cultura chinesa, Christus Nóbrega se valeu de um método no mínimo original: dizia a todo mundo que tinha ido à China para encontrar uma antiga enciclopédia chinesa chamada “Empório Celestial de Conhecimento”, evocada pelo escritor Jorge Luiz Borges no ensaio “O idioma analítico de John Wilkins” (La Nacion, 08/02/1942).
—Todos se ofereciam para me ajudar, e eu passava um bom tempo com cada pessoa, mergulhando na cultura e no sentimento de cada um — revela.
Christus, então, se aprofundou em pesquisas que en#volveram desde fontes literárias como técnicas mile#nares, incluindo a caligrafia e o recorte em papel, além da teoria das raças irmãs, que sustenta que os chineses es#tariam na genealogia dos indígenas sul-americanos, pois teriam chegado ao continente pelo Estreito de Bering.
Algumas obras —Fábrica de pipas convida o público a produzir pipas com contrato de trabalho; a cada 11 pipas fabricadas, o operário recebe uma como paga. E quem produzir mil pipas ganha uma pipa folheada a ouro. – Acredita que, em edições anteriores, entregamos três pipas de ouro? – pergunta o artista.
A instalação Empório Celestial de Conhecimentos Benévolos é um verdadeiro gabinete de curiosidades em formato de labirinto que o público pode entrar e abrir as dezenas de gavetas e portas. O Dicionário Feminino traz curiosidades sobre o uso do ideograma mulher na construção de palavras em mandarim e aborda questões de gênero.
Em paralelo, 89 passos, 89 linhas, desenhos sobre a paz registra em foto e GPS Drawing a camin#hada de Christus em homenagem à emblemática imagem de um jovem – até hoje não identificado – que en#frentou, de camisa aberta, os tanques que dissipavam uma manifestação estudantil na Praça da Paz Celestial. – Foi um momento marcante que acompanhei quando tinha 12 anos pela televisão – recorda. Outras instalações, como Muralha e Fábrica de Nuvens, completam a mostra.
Renata Azambuja assina a curadoria da mostra. Licenciada em Artes Plásticas pela Universidade Federal de Brasília, Azambuja é mestre em Teoria e História da Arte Moderna.
Toda noite: Vicente de Mello e a transvisão do mundo — 13 séries de obras celebram 33 anos de atividade artística do fotógrafo, ensaísta e curador. – Minha poética se desenvolve na “transvisão” da fotografia. As séries são, claramente, muito pouco explícitas. Provocam um deslocamento do real, o que leva a uma reinterpretação das imagens – reflete o fotógrafo, que venceu o prêmio APCA 2007 e foi um dos ganhadores do Prêmio CCBB Contemporâneo 2015, entre outros.
O que a noite revela —Uma noite que se repete indefinidamente: é este o mote da exposição, que apresenta os mais diversos tons de claroescuro, produzidos com diversas técnicas fotográficas. – A noite sempre esconde algumas coisas e expõe outras – ressalta Vicente.
Já na abertura, a série Limite Oblíquo subverte o próprio ato de fotografar, quando o artista captura, em alto contraste, vários objetos deixados na areia pelo mar, que ele próprio recolheu, dispostos sobre uma superfície iluminada. Noite Americana, inspirada na estética do cinema noir da década de 1950, é uma sequência de fotos de interiores e de paisagens urbanas, capturadas com pouca iluminação, em que predominam o contraluz e imagens escuras, com pouca definição.
Galáctica transforma luminárias, lustres e neons em formas que lembram corpos celestes, ao serem isolados de seu conceito original – o que, de certa forma, contradiz a ideia da fotografia como documento ou como reprodução fiel de um cenário. O exercício com objetos retirados do ateliê do artista, tratados na sala escura, sem câmera e sem negativo – à maneira dos rayogramas de Man Ray – cria a série Monolux, formada por fotogramas de laboratório.
Vermelhos Telúricos mostra cópias fotográficas no formato de molduras de slides de várias paisagens do mundo, que tendem à tonalidade vermelha, pelo desgaste do tempo; e Slidetrip é uma homenagem ao tempo das projeções domésticas de slides. A celebrada Moiré reflete efeitos de luz e sombra através do movimento das cortinas de um apartamento em Pequim, enquanto Silence City fala sobre o tempo.
Átomo Cian, que integra a série Sete Dias, é a imagem de um poste da cidade de Bruxelas que Vicente fotografou, usando um prisma comum de brinquedo. Duplicou a foto com lambelambe e, mais tarde, com serigrafia de alta qualidade. O resultado é uma instalação que lembra uma rede neural; “uma trama estelar, observada por um astrolábio à noite” como define o artista.
Ultramarino homenageia os faróis que orientam os navios quanto aos perigos ou os conduz à segurança, protegendo e orientando os navegantes. Na sala escura, um periscópio simula o movimento de um farol náutico. Embora as paredes estejam cobertas com imagens, o visitante só vê as imagens que o farol varre, em seu movimento constante.
Toda a Noite tem curadoria assinada por Marília Panitz, mestre em arte contemporânea, teoria e história da arte pela Universidade de Brasília; e Aldones Nino, curador adjunto do Collegium (Arévalo, Espanha), além de doutorando em Historia y Arte pela Universidade de Granada, em cotutela com o programa de PósGraduação em Artes Visuais da UFRJ.
Os artistas — Vicente de Mello (São Paulo, 1967): fotógrafo, ensaísta e curador, é formado em comunicação social, publicidade e propaganda pela Universidade Estácio de Sá. Especializouse em História da Arte e Arquitetura no Brasil na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Sua obra faz parte da coleção de espaços como a Maison Européenne de la Photographie, Paris/França, a Pinacoteca do Estado de São Paulo, os Museus de Arte Moderna de SãoPaulo e do Rio de Janeiro, entre outros.
Christus Nóbrega (Paraíba, 1976): vive e trabalha em BrasíliaDF, Brasil. É artista e professor do Departamento de Artes Visuais da Universidade de Brasília, além de doutor e mestre em Arte Contemporânea pela mesma universidade e bacharel em Design pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Premiado pelo Programa Cultural da Petrobras (2004 e 2011), pelo Museu da Casa Brasileira (2004) e indicado ao Prêmio Pipa (2017 e 2019), entre outros.
Proposição de artistas — As exposições, independentes, ocuparão o 1º. e o 2º. andares da instituição. Além disso, haverá um encontro na Sala de Sessões do Centro Cultural. Duas obras — uma de cada artista — giram em torno do tema olhares, com diferentes perpectivas: de um lado, o juiz olha para quem está na sala; de outro, as pessoas que retribuem o olhar. Nesse jogo de ver e ser visto, entra a curiosa invenção chinesa dos óculos escuros, usados antigamente para esconder as expressões dos juízes. Essa peça histórica inspira o trabalho de Nóbrega, que, com a ajuda da Inteligência Artificial, cria uma imagem que reflete sobre o que é revelado ou escondido pelo olhar. Já Vicente, através de suas fotografias, captura o ambiente e a sensação de estar na audiência, esperando por justiça. Ao juntar essas duas visões em um espaço comum, eles convidam o público a uma reflexão sobre como vemos e interpretamos os papéis de cada um.
Parceria IPAC-CCJF —O Centro Cultural Justiça Federal e o Instituto de Pesquisa e Promoção à Arte e Cultura (IPAC) firmaram uma parceria curatorial, inicialmene por um período de um ano e meio. A proposta é desenvolver em conjunto uma programação ativa de grandes exposições coletivas e individuais, com artistas de relevância em todo o país.
O suntuoso edifício histórico do CCJF — inaugurado em 1909 — foi projetado pelo arquiteto Adolpho Moraes de los Rios, sendo sede do STF até 1960, ano da transferência da capital federal para Brasília. Em 2001 se transformou em Centro Cultural. Possui 12 galerias (1000m2 expositivos), teatro, cinema, biblioteca de arte, café, além da Sala de Sessões, mantida como museu permanente.
—Queremos que o CCJF seja um dos pilares do Quadrilátero Cultural da Cinelândia, (através de lei sancionada em maio de 2023), cuja proposta é promover a integração entre prédios históricos como Theatro Municipal, Cine Odeon, Biblioteca Nacional e o Palácio Pedro Ernesto—afirmam Daiana Castilho Dias, presidente do IPAC, e Evandro Sales, curador do Centro Cultural Justiça Federal.
“Dragão Floresta Abundante”, de Christus Nóbrega , “Toda noite”, de Vicente de Mello, abertura dia 13 de abril, e segue de 13 de abril à 30 de junho, de terça a domingo, das 11 às 19 horas, no Centro Cultural Justiça Federal (CCJF), Av. Rio Branco, 241, Centro, Rio de Janeiro/RJ (há também possibilidade de acesso pela Rua México, 57) Bate-papos: dia 14 de abril, às 15 horas: Bate-papo com Christus Nóbrega e Fernanda Lopes: narrativas, métodos e processos de pesquisa; 14 de abril, às 15 horas: Bate-papo com Vicente de Mello e Fred Coelho sobre arte e fotografia.