Participação de mulheres no setor destaca suas contribuições como pesquisadoras.
Comemorado em fevereiro, o “Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência” foi estabelecido em 2015, por meio de resolução da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), com o objetivo de fomentar o papel feminino na ciência e para promover, de forma plena e igualitária, o acesso à ciência e a participação nessa área. De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), as mulheres representam menos de 30% dos pesquisadores no mundo, o que demonstra como ainda persistem barreiras para o aumento da representatividade feminina, principalmente em áreas como ciência, tecnologia, engenharia e matemática, áreas fundamentais para as economias nacionais. A média é global e atinge países, independente do nível de desenvolvimento.
O número de mulheres no setor da Defesa aumentou significativamente nos últimos anos e tem mantido perspectivas de crescimento. A Marinha do Brasil (MB) tem registrado o aumento do número de mulheres em cargos de chefia, com destaque para suas atuações como pesquisadoras e suas contribuições para o desenvolvimento de projetos e inovações no setor científico-tecnológico.
Servindo no Instituto de Estudos do Mar Almirante Paulo Moreira (IEAPM), em Arraial do Cabo (RJ), a terceiro-sargento (Química) Dayana Muniz Maia Montalvão é um exemplo dessas contribuições. Com formação técnica em Química e dupla graduação em Química e Farmácia, ela completou dez anos de serviço na Marinha em 2023, ano que foi aprovada em primeiro lugar para o curso de Mestrado do Programa Associado de Pós-Graduação em Biotecnologia Marinha, oferecido pelo IEAPM com a Universidade Federal Fluminense. — O IEAPM foi a grande porta que me levou à pesquisa. Eu já tinha pensado em fazer mestrado em outros momentos, mas não era possível conciliar. Aqui, por trabalhar diretamente com pesquisa, consegui participar da seleção, passando em primeiro lugar, o que me motivou ainda mais a seguir por esse caminho — revela.
Além de mestranda, a Terceiro-Sargento (QI) Dayana faz parte de projetos relevantes do Instituto. —Conhecer esse outro lado da Marinha foi essencial. Entender a importância das atividades realizadas na área de ciência e tecnologia e poder colaborar de alguma maneira tem sido muito gratificante (…) os estudos podem ser de grande valia para descobertas de novos compostos. Os nossos projetos na área da biotecnologia marinha podem gerar benefícios para toda sociedade —afirma. Segundo ela, o incentivo que recebeu de outras mulheres, desde o primeiro dia no Instituto, para o desenvolvimento de pesquisa e o aprendizado de novas atividades deve ser destacado. —Todas me inspiram de forma individual, porque amam exercer a pesquisa e por conseguirem, de forma excelente, conciliar com a vida militar, mostrando para todos que é possível— afirma.
Da Manutenção à Direção— Graduada em Engenharia Elétrica, com ênfase em Sistemas Eletrônicos, pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro e mestre em Engenharia Eletrônica e Computação pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), a capitão de mar e guerra engenheira Naval (EN) Carla de Sousa Martins, ingressou na Marinha em 1998. —Entrei na Marinha já pensando em trabalhar com pesquisa —lembra.
— Naquela época, existia um requisito de embarque obrigatório para o Corpo de Engenheiros, mas ainda existiam, em 1999, algumas restrições para o embarque de mulheres em navios. Com três meses na Diretoria de Engenharia, fui movimentada para cumprir o embarque de um ano, trabalhando com manutenção, na Base Naval do Rio de Janeiro —conta. Após este período, a agora comandante trabalhou com a área de comunicações navais na então Diretoria de Telecomunicações da Marinha e, em 2003, integrou a XVII Viagem de Instrução de Guardas-Marinha a bordo do Navio-Escola “Brasil”. Em 2004, passou a integrar, pela primeira vez, a equipe do Instituto de Pesquisas da Marinha (IPqM). —Na época, embarquei muito na Corveta Jaceguai e em Fragatas para realizar testes de mar, além de sempre estudar e fazer outras atividades de projeto— disse. Em 2007, fui fazer mestrado no ITA e lá fiquei durante dois anos. Ter a oportunidade de estudar no lugar dos meus sonhos, em um mestrado, foi a junção perfeita de dois mundos — o da pesquisa e o militar—.
Após anos de dedicação, da grande realização pessoal conquistada como gerente de Projetos de Pesquisa e Desenvolvimento e de uma passagem pela Comissão Naval Brasileira na Europa, a capitão de mar e guerra (EN) Carla foi surpreendida com a nomeação para a direção do Instituto onde trabalhou tantos anos, cargo que ocupa desde janeiro de 2023, sendo a primeira mulher a dirigir a Organização desde sua fundação em 1959. —Nem preciso mencionar a minha satisfação. Para mim, foi mais do que a realização de um sonho. O IPqM era dirigido, no passado, por um almirante, então eu nem sonhava com isso— revela. —Dirigir um Instituto de Pesquisas é, para mim, o topo da minha realização profissional na Marinha. Estar em contato diariamente com engenheiros e pesquisadores notáveis, altamente competentes, e poder contribuir (ainda que na gestão) com os projetos que são empregados na nossa Marinha é realmente uma satisfação muito grande— conclui.
Mulheres em Programas Estratégicos — A participação feminina nas áreas de Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I) da Marinha não é exclusividade dos Institutos de Pesquisa. Muitas delas estão diretamente envolvidas com Programas Estratégicos da Força. O Programa de Desenvolvimento de Submarinos (Prosub), por exemplo, conta com diversas mulheres em seu quadro efetivo, sejam militares, servidores civis ou mesmo empregadas das empresas envolvidas.
É o caso da capitão de fragata (EN) Luciana Veríssimo da Silva Duarte. Após ingressar na Força Naval em 2005, embarcou no Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro, onde trabalhou na Divisão de Oficinas Estruturais, sendo responsável, em um trabalho de campo, por supervisionar as obras de reparo estrutural de navios em período de manutenção. —A Marinha sempre esteve à frente na inclusão feminina em seus diversos Corpos e Quadros. Como mulher e engenheira, tive a oportunidade de ingressar em uma área majoritariamente masculina, que vem, gradualmente, integrando outras mulheres. Acho que fui uma das primeiras encarregadas, senão a primeira, das oficinas em que trabalhei— destaca, afirmando que a experiência a capacitou para a seleção em um Programa Estratégico de Defesa. —Em 2010, fui selecionada para esse trabalho e fui para a França realizar um dos primeiros treinamentos de transferência de tecnologia para a construção dos submarinos. Fazer parte disso é motivo de muito orgulho, pois trata-se de um Programa de alta complexidade, que gera empregos e desenvolvimento tecnológico para o nosso País—.
Segundo a capitão de fragata (EN) Luciana, no grupo que realizou o curso francês havia outras mulheres engenheiras, técnicas e soldadoras. —Ao longo do tempo, outras mulheres também foram capacitadas em áreas técnicas, o que, no meu ponto de vista, demonstra o interesse da Marinha em integrar o trabalho feminino em suas diversas atribuições —afirma.
Considerando apenas o estado de São Paulo, alinhada ao crescimento da participação de mulheres nas áreas de tecnologia e defesa, a Marinha concentra equipes que somam mais de 200 mulheres, entre militares e civis, na Diretoria-Geral de Desenvolvimento Nuclear e Tecnológico da Marinha e no Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo (CTMSP), onde desenvolvem seus trabalhos. O CTMSP, juntamente com suas Organizações Militares subordinadas, é responsável pela coordenação do Programa Nuclear da Marinha, capacitando o País no domínio dos processos tecnológicos, industriais e operacionais de instalações nucleares aplicáveis à propulsão naval. O Programa é desenvolvido com o propósito de dominar a tecnologia de produção do combustível nuclear, além de desenvolver e construir uma planta nuclear de geração de energia.
É com essa diretiva que trabalha, na Diretoria de Desenvolvimento Nuclear da Marinha, a capitão de corveta (engenheira naval) Renata Suellen Alves Krusche. Engenheira química na Força Naval desde 2010, ela foi Encarregada da Divisão Técnica do Depósito de Combustíveis da Marinha no Rio de Janeiro, onde trabalhava como chefe do laboratório de análise de combustíveis. Em São Paulo desde 2015, —Fui gerente de importantes projetos da área nuclear, sempre visando ao fiel cumprimento dos requisitos normativos nacionais e internacionais —detalha.
—Ser mulher em um Programa Estratégico de Defesa é uma grande oportunidade de contribuir com habilidades e perspectivas distintas em um meio de maioria masculina. Trazer diversidade para esse ambiente é também motivador, por saber que posso inspirar outras mulheres a se tornarem líderes e inovadoras, quebrar barreiras e construir caminhos cada vez mais inclusivos e igualitários em todos os segmentos, sobretudo no da ciência e tecnologia — ressalta.|Agª Brasil.