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20/02/2024

Quaresma: tempo favorável à conversão

Por meio do tempo litúrgico da Quaresma, a Igreja se prepara para celebrar o mistério do Cristo Ressuscitado, vencedor da morte e do pecado. Tal preparação acontece à luz da Palavra de Deus proclamada nas celebrações da Santa Missa, convidando-nos à conversão, ou seja, renúncia a toda forma de pecado para se viver com maior entusiasmo a vida nova do Espírito Santo.

No itinerário quaresmal, somos exortados por Cristo Jesus a fazer penitência por meio da esmola, da oração e do jejum, atentos a não praticá-la motivados pela vanglória dos hipócritas, cujo interesse é o culto a si mesmos (cf. Mt 6,1-6.16-18). A partir do apelo da Igreja “convertei-vos e crede no Evangelho”, que cheguemos à Páscoa do Cristo ressuscitado mais comprometidos com o duplo mandamento do amor, sabendo que, sem o cultivo sincero do amor a Deus e ao próximo, não seremos nada mais do que pó e que ao pó retornaremos.

Ao mencionar a conversão ao mandamento do amor, recordamos que São João, em sua primeira carta, não deixa dúvidas sobre o estreito vínculo que há entre o amor a Deus e ao próximo: “Se alguém disser ‘Amo a Deus’, mas odeia o seu irmão, é mentiroso, pois quem não ama o seu irmão, a quem vê, não poderá amar a Deus, a quem não vê. E este é o mandamento que dele recebemos: quem ama a Deus, ame também seu irmão” (1 Jo 4,20-21). Não foi à toa que, dentre as práticas penitenciais mencionadas por Jesus, a esmola simboliza o dever cristão de manifestar, em gestos concretos de misericórdia, o infinito amor com o qual Deus ama a todos.

Como ocorre anualmente por ocasião da Quaresma, o Papa Francisco presenteia à Igreja com uma mensagem. Neste ano, com o tema “Através do deserto, Deus guia-nos para a liberdade”, o Santo Padre afirma que a Quaresma é tempo de agir, e agir significa também parar: “parar em oração, para acolher a Palavra de Deus, e parar como o Samaritano na presença do irmão ferido. O amor a Deus e ao próximo formam um único amor. Não ter outros deuses é parar na presença de Deus, junto da carne do próximo”. Continua o Papa Francisco: “Por isso, oração, esmola e jejum não são três exercícios independentes, mas um único movimento de abertura, de esvaziamento: lancemos fora os ídolos que nos tornam pesados, fora os apegos que nos aprisionam.”

O empenho de amar os irmãos mais necessitados motivou os bispos da Igreja no Brasil a promover a Campanha da Fraternidade. Já se vão 60 anos de uma caminhada de testemunho de fé, esperança e amor, onde a Igreja não mede esforços para atingir os seguintes objetivos: 1. Despertar o espírito comunitário e cristão no povo de Deus, comprometendo, em particular, os cristãos na busca do bem comum; 2. Educar para a vida em fraternidade, a partir da justiça e do amor; 3. Renovar a consciência da responsabilidade de todos pela ação da Igreja na evangelização, na promoção humana, em vista de uma sociedade justa, fraterna e solidária (cf. https://campanhas.cnbb.org.br/campanha-da-fraternidade).

Com o tema “Fraternidade e Amizade Social” e o lema “Vós sois todos irmãos e irmãs” (cf. Mt 23,8), a CF 2024 tem como objetivo geral, conforme o seu texto-base, promover e fortalecer os vínculos da amizade social, para que, em Jesus Cristo, a paz seja realidade entre todas as pessoas e povos.

Dentre tantos dons que Jesus ressuscitado concedeu à humanidade, damos destaque à paz, que não é simples resultado de “acordo entre cavalheiros”, mas consequência da graça divina do encontro pessoal com Cristo Jesus, o Príncipe da Paz. Com tantas guerras em curso pelo mundo, sem contar o crescimento da violência urbana, como se torna urgente o nosso compromisso com a bem-aventurança ensinada por Jesus no Sermão da Montanha: “Bem-aventurados os que promovem a paz, pois serão chamados filhos de Deus” (Mt 5,9).

Nesse contexto, não poderia deixar de mencionar o legado carismático do saudoso padre Jonas Abib, justamente por ter ensinado sobre o princípio evangélico de viver a reconciliação em contínua dinâmica de dar e pedir perdão. Peçamos a Deus a graça da conversão à paz de Cristo, por meio da reconciliação e do cultivo do amor fraterno.

. Por: Padre Wagner Ferreira da Silva, presidente da comunidade Canção Nova e da Fundação João Paulo II.