Estudo da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro apresenta atualização das informações fluminenses, dados comparativos com o país e análises do mercado.
A Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) lançou, em 30 de janeiro (quarta-feira), a 6ª edição do “Perspectivas do Gás no Rio”. O estudo traz o dado de produção bruta de gás no Brasil de 145 MMm³/dia, entre janeiro e outubro de 2023, um crescimento de 5% frente a média de 2022 (138 MMm³/dia). O levantamento apresenta ainda a atualização do mercado fluminense com dados comparativos com o Brasil, além de trazer análises de diferentes visões de empresas que atuam no mercado.
Destaques sobre a atualização de dados— O “Perspectivas do Gás no Rio 2023” destaca que, além do recorde na produção nacional no ano passado, frente ao ano anterior, o estado no Rio de Janeiro reforça a sua liderança na produção de gás, atingindo a marca recorde de 72% de toda a produção bruta do país e, também, recorde com 51% da produção disponível.
Apesar dos números positivos de produção bruta, a reinjeção também se destaca. Essa operação nas plataformas segue crescendo, alcançando a ordem de 75 MMm³/dia, volume equivalente a 122% de toda a demanda de gás do Brasil. Já a demanda de gás natural, devido à baixa competitividade em preço do energético, segue caminho contrário, com redução da demanda total em torno de 7% do país na mesma comparação de período (janeiro a outubro de 2023).
A demanda industrial apresentou queda de 5%; enquanto a demanda por GNV (Gás Natural Veicular) com queda de 13%, reflexo ainda da política do governo federal de redução do ICMS para os combustíveis líquidos no segundo semestre de 2022. Nesse sentido, o estado do Rio também apresenta cenário semelhante ao país, com redução de aproximadamente 5% na demanda por gás natural no ano passado.
—O gás natural é muito rico no estado do Rio e pode ser mais valoroso ainda para a sociedade fluminense e para o país. Mas, o preço ainda continua caro para a indústria. É necessário baixar o preço para valorizar ao máximo os recursos do produto, pois é o energético de baixa emissão de carbono e perfeito para esse momento da transição energética, até que os demais energéticos se viabilizem, como o hidrogênio verde e as eólicas offshore —avalia o vice-presidente da Firjan, Luiz Césio Caetano.
Análises do mercado —A publicação deste ano também conta com artigos da Firjan SENAI SESI e de parceiros como a Ministério de Minas e Energia (MME) e Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviço (MDIC), e das empresas Gerdau, PRIO e Origem. A Firjan SENAI SESI destaca como o gás natural pode ser impulsionado no país e no Rio a partir de três grandes pilares: expansão da oferta nacional, aproveitando o diferencial competitivo do gás ser produzido juntamente com o petróleo, o qual viabiliza a totalidade dos investimentos; a precificação dos ganhos de descarbonização com a substituição de outros combustíveis mais poluentes (carvão, GLP, óleo combustível, gasolina e diesel) pelo gás natural; e a importância de arcabouço regulatório favorável a expansão do consumo.
— A partir desses pilares, os investimentos serão favorecidos, gerando atividade econômica, geração de empregos e arrecadações governamentais tanto para a União quanto para os estados e municípios brasileiros— afirma a gerente de Petróleo, Gás e Naval da Firjan, Karine Fragoso.
Em seu artigo, a Origem Energia apresenta a importância do gás natural para desenvolvimento econômico no país, destacando que no mundo o gás é usado como fator de competitividade da cadeia produtiva, mas que no Brasil é incipiente e muito focado para geração termelétrica. Para crescimento desse mercado além da geração elétrica, a empresa destaca a necessidade de melhoria da precificação, que ao contrário do mundo, no Brasil não reflete as condições de oferta e demanda regionais, mas sim são regidas pela cotação internacional do petróleo.
Já a PRIO aborda o crescimento da participação de empresas produtoras de petróleo e gás independentes e ressalta que a expansão da oferta de gás natural desses produtores está atrelada a viabilidade de acesso às infraestruturas de disponibilização, as quais são restritas e pouco vantajosas para os produtores independentes.
A Gerdau explicita o papel da indústria de aço no contexto de transição energética, como matéria-prima insubstituível, que em muito ainda depende do carvão para a sua produção. Nesse ponto, o gás natural é colocado como vetor dessa descarbonização do processo produtivo da indústria de aço. A companhia destaca, também, seu foco em uso de reciclagem de sucata e biorredutores na sua cadeia produtiva, posicionando-a como uma das empresas com menor índice de emissão do setor. Ainda assim, apresenta o plano de reduzir suas emissões em 12%, mesmo já possuindo um nível de emissões 51% menor que a média mundial.
O MDIC explica que o gás natural tem papel central na transição energética, até como potencializador de fontes renováveis, e apresentou os esforços empenhados para desenvolver propostas visando melhorar a competitividade das indústrias, que usam o gás natural, por meio do Grupo de Trabalho Gás para a Indústria, instituído no âmbito do Conselho Nacional de desenvolvimento industrial – CNDI.
Já o MME detalhou a atuação desse ministério, por meio do Programa Gás para Empregar e seus diversos Grupos de Trabalho, destacando que tem como objetivo possibilitar a melhoria do mercado de gás. Os efeitos positivos para o estado do Rio de Janeiro, por exemplo, destacados pelo ministério, são no sentido de crescimento da disponibilização de gás por meio da redução de reinjeção e da revitalização de campos. Assim pode haver aumento da arrecadação de participações governamentais e dinamização da economia local, já que o desenvolvimento do setor produtivo pode ser alavancado pelo aumento da oferta de gás natural a preços competitivos. | Mais detalhes sobre o estudo: https://shre.ink/rxHU
Empresários debatem mercado de gás natural e analisam estudo da Firjan — A apresentação dos principais destaques do “Perspectivas do Gás no Rio” foi feita por Fernando Montera, coordenador de Conteúdo Estratégico de Petróleo, Gás e Naval da Firjan: —Ao contrário da oferta, a demanda por gás natural, devido à baixa competitividade do seu preço, segue em queda de 7% no país e de 5% no estado do Rio. Para o desenvolvimento do mercado de gás é preciso uma pauta regulatória. No estado, o detalhamento da regulamentação do mercado livre é uma das pautas fundamentais que vem sendo trabalhada. No federal, por exemplo, maneiras de aumentar o aproveitamento do gás e planos coordenados de transporte estão neste contexto—.
—Gás é um assunto complexo e apaixonante, dado seu potencial de transformar o mercado. Cada questão tem seu tempo correto e algumas decisões precisam ser tomadas pelos reguladores. Precisamos viabilizar que demanda e oferta consigam convergir seus planejamentos. Outro tema que precisa ser discutido é o acesso a financiamento, pois os recursos estão mais escassos e o custo do capital maior —defendeu Karine Fragoso, gerente de Petróleo, Gás e Naval da Firjan, que mediou o painel.
Visão das empresas — A necessidade de planejamento neste mercado foi destacada pelo CEO da Origem Energia, Luiz Felipe Coutinho. —O Brasil importa 50% do gás que utiliza. A forma de consumir energia mudou. A maioria das pessoas usa celular e carrega quase ao mesmo tempo, em períodos de pico. Por isso, o gás natural poderia ser mais usado como energia segura e barata. A Origem fornece 25% do gás para a Bahia e está fazendo o primeiro projeto de armazenagem de gás natural onshore, faltando só a aprovação da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP)—. Coutinho contou que a ideia de criar a Origem surgiu durante uma palestra na Firjan há cinco anos.
Já Bruno Menezes, gerente -executivo de Novos Negócios da PRIO, detalhou a experiência da empresa de produzir gás em campos maduros, na Bacia de Campos. “O mais importante é ser eficiente e produzir mais. O gás que produzimos é usado para geração de energia na própria unidade. A Bacia de Campos tem ociosidade no escoamento do gás, tanto que a Petrobras concedeu acesso à Equinor. Pleiteamos o mesmo”. Em parceria com a Firjan SENAI, a PRIO capacitou 300 profissionais para o segmento de Exploração e Produção.
Por outro lado, a siderúrgica Gerdau mostrou o exemplo de uma multinacional centenária de origem brasileira, que está há 50 anos no Rio de Janeiro. “Emitimos metade das emissões médias de carbono das cadeias de aço. Mas a maioria das ações pela rota primária usa o minério de ferro e o carbono como agente redutor. O gás natural pode suplantar o carvão mineral nos altos fornos. Mas é preciso adaptá-los para o energético. Seria preciso ter gás competitivo e a curto prazo. A indústria precisa de previsibilidade para fazer investimento”, resumiu Marcos Prudente, gerente de energia da Gerdau.
Finalizando o dia, na sequência do evento à tarde, o gás natural continuou em pauta com a 1ª reunião de 2024 do Núcleo de Gás Natural do Conselho Empresarial de Petróleo e Gás.