Dada a proximidade com o fechamento da balança comercial de 2023, o Icomex FGV IBRE optou por apresentar uma síntese dos resultados até novembro e uma análise detalhada a qual será apresentada na edição de janeiro de 2024 do Icomex. Antes, porém, destaca alguns pontos que marcaram a agenda do comércio exterior do Brasil, em dezembro.
Em dezembro foi realizada a 63ª Cúpula dos Chefes de Estado do Mercosul. Destacamos três fatos. Foi assinado o acordo Mercosul — Singapura. O país é o oitavo no ranking do destino das exportações brasileiras com participação de 2,3% e o 41º nas importações. Até novembro de 2023, 65% das exportações brasileiras eram de óleos combustíveis e 15% de óleo bruto. É pouco provável, pelo menos num horizonte de curto a médio prazo, que se diversifique essa pauta. — O acordo pode ser um facilitador para as empresas brasileiras que utilizam as vantagens tributárias oferecidas pelo país e um sinal do interesse do Mercosul na Ásia. Acordos com as grandes economias da região como a China, Coreia do Sul e Japão, por exemplo, suscitam reações de proteção por parte do setor industrial no Mercosul, em especial Brasil e Argentina, ou tem se mostrado difíceis na conciliação dos interesses defensivos (caso da Índia)— analisa o Icomex FGV IBRE.
—Foi também assinado o Protocolo de Adesão do Estado Plurinacional da Bolívia ao Mercosul. A Bolívia é o 35º destino das exportações brasileiras e o 30º país de origem das importações brasileiras. As importações de gás natural representam 87% das compras brasileiras e a pauta de exportações é diversificada predominando produtos da indústria de transformação. O país possui diversidade de reservas minerais tradicionais como zinco, estanho, antimônio, prata e minerais raros como lítio. Sob esse aspecto, a entrada da Bolívia pode estimular parcerias para exploração desses minerais e acordos para transição energética— continua.
O terceiro foi a não assinatura do Acordo Mercosul — União Europeia, que seria um fecho que marcaria o término da presidência pró-tempore do Brasil no Mercosul. Num mundo de incertezas de alianças politicas e econômicas, o acordo teria uma contribuição positiva para o multilateralismo, afastando-se da polarização entre Estados Unidos e China. Do ponto de vista do comércio, garantiria maior grau de previsibilidade para o setor agropecuário, pois as negociações da Organização Mundial do Comércio estão estagnadas. Para a indústria, as tarifas de importações sobre produtos industriais já são baixas na União Europeia, o maior impacto seria o acesso a bens de capital e intermediários a custos mais baixos que poderiam ter um impacto positivo na redução dos custos de produção da indústria brasileira. Além disso, poderia facilitar parcerias nas áreas de investimentos em transição energética. — Outro ponto a destacar: num cenário em que a União Europeia opta por medidas unilaterais que fazem parte da sua agenda de mudança climática, como a taxa de carbono na fronteira Carbon Border Adjustment Mechanism (CBAM) e listas relacionados de mercadorias produzidas em áreas de desmatamento, um diálogo permanente com a União Europeia é importante— avalia o Icomex.
— Observa-se que as negociações irão continuar, segundo os governos da União Europeia e do Mercosul, mas as incertezas parecem ter aumentado.
Resultados da balança comercial de novembro — A variação do volume exportado na comparação mensal continua positiva e foi de 4,7%, enquanto o das importações repetiu a sua tendência de queda com recuo de 3,2%. A variação interanual mensal dos preços foi negativa ao longo do ano, exceto nos dois primeiros meses do ano para as exportações e para as importações, as exceções foram os meses de janeiro e março. Na comparação interanual do mês de novembros, os preços exportados recuaram 4,2% e os importados, 8,3%.
Na comparação do acumulado do ano até novembro, a variação em valor das exportações foi de 1,0%. Esse pequeno valor se explica pela queda de preços em 7,0% que compensou parte do aumento do volume em 8,7%. No caso das importações, o recuo em valor foi de 11,8%, explicado pela queda de preços ( 9,5%) e de volume, 2,4%.
O aumento das exportações está associado ao desempenho das commodities. Em volume, as exportações aumentaram 21,2% na comparação interanual do mês de novembro e recuaram em 5,8% para as exportações de não commodities. No acumulado do ano até novembro de 2023 em relação a igual período de 2022, a variação do volume exportado das commodities foi de 13,5% e das não commodities, uma queda de 1,7%. Os preços das commodities caem no acumulado do ano em 9,5% e das não commodities aumentam 0,5%.
No mês de novembro, a variação em volume do complexo soja foi de 60,4% e do grupo de petróleo e derivados recuou 13,9%. No entanto como mostra a Tabela 1 as exportações de petróleo e derivados (22,5%) seguida do complexo soja (21,8%) lideram a quantidade exportada no acumulado do ano até novembro. Todos os outros grupos registraram variação positiva, exceto carnes, com queda de 3,1%. Preços caem para todas as commodities, exceto outros agrícolas.
Os termos de troca continuam mantendo um comportamento estável e a variação entre os meses de novembro foi de 0,7%. No acumulado do ano até novembro, foi 2,8%, com uma variação negativa menor dos preços exportados (7,0%) do que o dos importados (9,5%).
A indústria agropecuária liderou o volume exportado no mês de novembro, com variação de 51,9% em relação a igual período de 2022. Como antes mencionado, as exportações do complexo soja aumentaram 60,4% entre os meses de novembro. Se considerarmos, porém somente a soja, o aumento da quantidade foi de 105,8%. A indústria extrativa elevou o volume exportado em 5,2% e o da transformação recuou em 6,1%. Na comparação do acumulado do ano, a agropecuária mantém a liderança com aumento de 25,0% seguida da extrativa, 18,8%, Os preços caem para todos os setores.
A variação no volume, preços e valor das importações em todos os setores foi negativa, seja na comparação mensal ou do acumulado do ano. As únicas exceções, mas com variações pequenas é o aumento de 1% para a indústria de transformação e de 0,7% para a extrativa no mês de novembro.
O aumento em 62,0% das importações de bens intermediários da agropecuária em contraste com a queda de 6,5% para a indústria de transformação, sugerindo que o setor agropecuário continua com perspectivas favoráveis para 2024. Especialistas do setor de agropecuária esperam que o país terá a segunda maior safra em 2024, após a de 2023. Mesmo que o volume da agropecuária recue em relação a 2023, o nível da safra será positivo para as exportações. No acumulado do ano até novembro, a variação dos índices é mais favorável para a agropecuária do que para a indústria de transformação. Chama atenção a variação de 31,9% nas importações de bens de capital da agropecuária e a de 2,3% para a transformação.
A China explicou 52,3% do superávit de US$ 89,5 bilhões da balança comercial do Brasil no acumulado do ano até novembro. Os Estados Unidos contribuíram com a redução do déficit de US$ 13,6 bilhões para US$ 1,6 bilhões e a Argentina com o aumento do superávit de US$ 2,3 bilhões para US$4,8 bilhões. Para todos os outros mercados selecionados houve redução de superávit.
Variação no volume exportado pelos mercados selecionados — Destaca-se a liderança da China em termos de volume, com aumento de 29,3%, no acumulado do ano até novembro. Nessa mesma base de comparação, a Argentina registra a segunda maior variação, com aumento de 9,4%%, seguida dos Estados Unidos com variação de 6,4%. Observa-se que o aumento no acumulado do ano para a Argentina deverá cair até o final de 2023, pois, desde agosto, a variação em relação a iguais meses de 2022 tem sinal negativo. Em novembro, o recuo no volume exportado foi de 18,3%.
No volume importado é repetida a tendência já observada em meses anteriores. China e demais países asiáticos registram variação positiva nas importações e o restante dos mercados, variação negativa. Chama atenção a queda do volume importado para os Estados Unidos de 21,1% na comparação do acumulado do ano. Esse resultado junto com aumento do volume exportado em 6,4% ajudam a entender a redução do déficit na balança bilateral Brasil-Estados Unidos. Observa-se que a diferença na variação dos preços é pequena, sendo ambas negativas: exportações (7,1%) e importações (6,6%).
O que esperar da Argentina? — Na edição do Icomex de novembro escrevemos que a vitória de Milei na Argentina levanta preocupações para o comércio externo brasileiro. Os riscos surgiriam com as incertezas trazidas por pronunciamentos durante a campanha presidencial. A saída unilateral do país do Mercosul, se ocorresse traria impactos negativos para as exportações brasileiras beneficiadas com acordos (caso automotivo) e tarifas preferenciais—comenta o Icomex.
— O pragmatismo, porém, prevaleceu. Acenos da importância do Brasil para a Argentina foram reiterados pelo novo presidente. Pode ser que o novo governo queira voltar ao tema do fim da união aduaneira ou reforma da tarifa externa comum. Nesse caso é uma pauta que já faz algum tempo ronda o cenário do Mercosul.
— Quanto ao futuro da Argentina com as medidas do novo governo é outra questão. De qualquer forma a esperada piora no crescimento da Argentina indica que as exportações brasileiras deverão continuar declinando para o mercado argentino— conclui o Icomex.