Medida visa reduzir o uso de combustível fóssil na geração de energia e mitigar seus impactos no meio ambiente.
O setor hoteleiro está entre os dez maiores consumidores de energia no mundo. Sistemas de ar-condicionado, iluminação e diversos equipamentos elétricos usados para garantir conforto e bem-estar dos hóspedes explicam esta posição. Cientes dessa necessidade, hotéis da Associação Roteiros de Charme têm investido em energias renováveis para reduzir o impacto no meio ambiente sem comprometer a qualidade do serviço prestado.
A priorização de medidas sustentáveis, que reduzem o impacto no ambiente sem comprometer o charme e o luxo do atendimento oferecido faz parte do perfil dos associados à Roteiros de Charme. A instituição foi criada com essa premissa e todos os associados compartilham estes objetivos, por meio do Código de Ética e Conduta Ambiental criado pela Roteiros. —Fomos pioneiros neste movimento que hoje é reconhecido no mercado em função da urgência da pauta climática. Em 1999 elaboramos nosso código de Ética e de Conduta Ambiental, em parceria com a United Nations Environment Programme (UNEP), e continuamos engajados em combater a mudança climática e reduzir a crise da biodiversidade —afirma Luiz Penna.
—Hoje, vários associados já fizeram a opção por energia fotovoltaica. Ela tem muitas vantagens: é barata, o custo de implantação é recuperado em poucos anos e não contribui para o efeito estufa, diminuindo a emissão de gases. O uso de energias renováveis, associada ao plantio de florestas para compensar emissões de carbono ainda por eliminar, são parte de uma primeira etapa na jornada para atingir as metas do Acordo de Paris que prevê atingir até o ano de 2050 a neutralidade das emissões causadoras da mudança climática —completa.
Equipamentos novos — Em julho deste ano o Pedra da Laguna Hotel Boutique & Spa Búzios, na Região dos Lagos, no Estado do Rio de Janeiro, investiu na instalação de 150 placas solares para iniciar um processo de independência da energia fornecida pela concessionária. O equipamento é suficiente para garantir até 80% do consumo do hotel. O empresário Roberto Fuzzete está otimista com o investimento e acredita que em cinco anos já terá recuperado o que foi aplicado. —Optamos pela energia solar não só por causa da economia, mas porque temos o objetivo de tornar o Pedra da Laguna totalmente autossustentável. A sustentabilidade é uma das nossas prioridades e estamos sempre optando pela criação de mais ações socioambientais— esclarece o dono do hotel, que fica a 150 metros da charmosa Praia da Ferradura e ao lado da “Ponta da Lagoinha”, o cenário mais bonito de Búzios para ver a lua cheia.
Também na Região dos Lagos, em uma colina em São Pedro da Aldeia, de onde é possível ver o litoral de quase todas as cidades da região, a Pousada Enseada das Garças começou a usar energia solar este ano. Em março as placas solares começaram a ser colocadas, mas por causa do período de chuva, a economia de fato só começou em outubro, quando a conta da concessionária foi nula. —Temos placas no telhado e agora estamos construindo uma estrutura para colocar mais, serão 69 ao todo. Nossa intenção é garantir o uso da energia solar durante a alta temporada também— esclarece Claudia Silveira, proprietária da pousada.
Energia a custo zero, ou quase — O uso de energia solar na Pousada Araras Pantanal Eco Lodge, em Poconé, Mato Grosso, começou há 24 anos, com a instalação de coletores solares para aquecer a água dos chuveiros. Há dois anos, a administração da pousada associada à Roteiros de Charme resolveu investir mais, e hoje a energia elétrica consumida é toda gerada por uma usina solar de placas fotovoltaicas, com capacidade de produzir 10.000 kwh por mês. André Thuronyi, diretor e proprietário, destaca que a decisão pelo uso da energia solar foi baseada nos objetivos da pousada que, desde quando foi criada, em 1991, pratica turismo responsável, com foco na sustentabilidade em um espaço rico em elementos de fauna e flora do cerrado, das florestas Amazônica e Atlântica, da caatinga e do chaco paraguaio.
O Manary Praia Hotel, também associado à Roteiros de Charme, tem 23 apartamentos com varandas na encantadora praia de Ponta Negra, em Natal, Rio Grande do Norte. Com toda a infraestrutura necessária para uma viagem de negócios ou um passeio de férias, o Manary é totalmente abastecido pela energia produzida pela usina solar que aluga. A administração optou por fazer a compensação remota, por meio de uma usina terceirizada na localidade de Extremoz, a cerca de 30 km da sede do hotel. —Optamos pela energia solar por causa da sustentabilidade ambiental, economia e independência energética que ela nos garante. Como somos cliente do grupo B da empresa de energia no estado, a compensação de créditos substitui praticamente toda a conta de energia, ficando apenas uma taxa mínima de aproximadamente R$ 100,00—conta Neiva Paffetti, gerente-geral do empreendimento, que começou a investir em energia alternativa em 2022.
Já o Parador Lumiar começou o uso de energia renovável em abril de 2020, quando instalou placas suficientes para cobrir 80% do consumo da hospedagem, que fica a 850 metros de altitude, em Lumiar, Nova Friburgo, na Região Serrana do Rio de Janeiro. Em outubro de 2021, Marcelo Fontes, proprietário do Parador Lumiar, fez um financiamento de 100% do investimento, com prazo de 36 meses, para ampliar a capacidade de geração de energia, e agora tem placas suficientes para atender ao consumo inteiro do Parador Lumiar. —Hoje em dia nossa conta de energia é quase o valor da tarifa mínima— ressalta.
Também no Estado do Rio de Janeiro, um pouco mais ao sul, a Pousada Mauá Brasil, em Visconde de Mauá, começou a usar a usina de geração de energia solar em fevereiro de 2022. O equipamento, com 200 placas solares, produz, em média, seis mil quilowatts por mês, o suficiente para suprir toda a necessidade energética da pousada, mesmo durante a alta estação. —Hoje estamos produzindo toda nossa energia —comemora o proprietário, Carlos Caniato. —Nossa motivação foi participar de uma evolução, a meu ver natural, do tipo de produção de energia, mais limpa, barata e que respeita mais o meio ambiente. Fizemos um investimento que será recuperado em apenas três anos. Fomos um dos primeiros hotéis a instalar na região e ficamos felizes que a ideia está se propagando, com outros hotéis aderindo a essa fonte de geração de energia—.
No Casarão Villa do Império Boutique, em Pirenópolis, Goiás, todo o glamour das suítes com temas de títulos de nobreza é iluminado pela usina que a rede de hotéis construiu no platô de uma fazenda comprada exatamente para esse fim. O projeto começou em 2021, com muitas pesquisas e levantamentos para que garantisse que o investimento teria utilidade por muitos anos e justificasse o financiamento que foi necessário. —Compramos uma pequena fazenda de 40 mil metros quadrados e colocamos 2.800 placas solares em um platô isolado. Temos um equipamento que monitora a usina e nos atualiza constantemente sobre quanto estamos gerando de energia e quanto isso deixa de impactar na mudança climática— conta Geovani Ribeiro, sócio do Grupo Villa Hotéis. —Gastávamos 180 mil reais todos os meses com energia. Hoje, com o empréstimo e os gastos com todos os equipamentos, estamos pagando 135 mil reais por mês. Ainda faltam quatro ou cinco anos para quitarmos os investimentos, mas também já é possível sentir a redução nas despesas —destaca.
Em Alagoas, a graciosa Pousada do Toque, em São Miguel dos Milagres, já nasceu com placas solares garantindo o aquecimento da água usada no espaço. Há quatro anos, Nilo Burgarelli, dono da hospedagem, decidiu ampliar o fornecimento de energia renovável e implantou 980 placas solares no telhado. A estrutura garante de 16 a 18 mil quilowatts mensais. —Essa variação se deve à quantidade de sol que recebemos. Em períodos com mais nuvens, a geração é menor. Nosso consumo é um pouco maior que nossa produção, mas essa evolução tem nos agradado, pois estamos economizando muito e reduzindo significativamente a nossa participação na produção de CO²— comemora o hoteleiro.
Dois relógios — Algumas pousadas que optaram por fazer uso de energia fotovoltaica mantiveram o relógio que garante o abastecimento convencional durante a noite, ou quando a captação de energia solar é insuficiente. É o caso da Pousada dos Cavaleiros do Pireneus, em Pirenópolis, Goiás, e da Pousada do Engenho, em São Francisco de Paula, no Rio Grande do Sul.
A Pousada Cavaleiro dos Pireneus usa a energia fotovoltaica com dois relógios desde 2019. Com 180 metros quadrados de placas de energia solar, o abastecimento diurno da estrutura estava garantido até recentemente, quando novas placas foram adicionadas a um terreno fora da pousada. Agora, o empreendimento tem 1.400 metros quadrados de área para instalação das placas. —Nós construímos mais seis apartamentos, um deles tem 285 metros quadrados, e ampliamos nossos serviços, com uma quadra de beach tênis e uma academia de ginástica, o que fez com que nosso consumo de energia aumentasse. Com essa área nova vamos produzir mais energia e venderemos o excedente, compensando o que consumimos à noite— explica Fernando Ramos, proprietário da pousada. Ele comemora que, com a instalação das placas, o gasto mensal com energia na Cavaleiro dos Pireneus caiu de R$ 37 mil para R$ 9 mil.
O uso de energia fotovoltaica já era um projeto antigo de Alex Alano, sócio da Pousada do Engenho, em São Francisco de Paula, no Rio Grande do Sul. Ele conseguiu colocar em prática em 2018, usando a técnica dos dois relógios. —É uma usina que tem relógio duplo. Durante o dia captamos energia e mandamos o excedente para a empresa de energia da região. À noite, consumimos energia da concessionária—. Alex explica que a alternativa não cobre 100% da necessidade da pousada, principalmente no inverno, mas já garante uma economia e oferece um impacto ambiental significativo: —Deixamos de consumir 103,8 toneladas de carvão, o que equivale a 20.330 árvores plantadas e uma prevenção de emissão de 295,9 toneladas de CO2 — comemora o músico e empresário que administra, com mais dois sócios, a pousada cercada de vegetação e com bangalôs com lareiras.