A Conferência ETRI 2023, que está sendo realizada na USP, em São Paulo, contou com a participação do diretor geral de tecnologia da Shell no Brasil, Olivier Wambersie.
A cada três anos, a Shell desenha cenários dos desafios energéticos com os quais possivelmente terá que lidar. No dia 07 de novembro (terça-feira) durante a 6ª edição da Conferência de Pesquisa e Inovação em Transição Energética (ETRI – Energy Transition, Research and Innovation Conference), que acontece até quinta-feira na USP, em São Paulo, o direto- geral de tecnologia da Shell no Brasil, Olivier Wambersie, apresentou alguns deles.
O panorama traçado com arquétipos englobam os países alocados como ‘green dream’ (sonho verde, sendo basicamente a Europa cujos governos tentam influenciar o comportamento das pessoas); os ‘surfers’ (surfistas, no qual Brasil e Índia vão encontrar maneiras de prover, por exemplo, hidrogênio e surfar na onda) e ‘great wall of change’ (grande muralha da mudança, em uma alusão à China, que representa parcela importante da população mundial, não muito diferente da Índia, e sozinha responde por 25% do consumo mundial de energia, por 50% do uso de carvão no mundo com 20% das emissões globais de gases de efeito estufa).
Mas o que isso significa para o Brasil? O País — ressaltou Wambersie — se encontra em um mix de energia entre duas tendências. De acordo com ele, são dois caminhos possíveis, mas que ambos levam a uma entrada coletivamente em um mundo de transição competitiva. Um cenário é denominado ‘Arquipélagos’ e se traduz em uma corrida para proteger o sistema energético, prevendo um aumento de temperatura de aproximadamente 2,2 ºC em 2100. O outro, chamado ‘Sky 2050’, cujo foco está na mudança do sistema energético, aponta para um impacto de aproximadamente 1,2ºC em 2100.
Enquanto o ‘Arquipélago’ é fragmentado e competitivo, com a mentalidade de segurança tornando-se enraizada em todo o mundo e o sentimento global mudando da gestão das emissões para a segurança energética; o ‘Sky 2050’ está acelerado agora e a segurança climática a longo prazo é a principal âncora, com metas específicas para atingir zero carbono até 2050 e, em última análise, com aumento da temperatura média global em 1,5 ºC até 2100.
O crescimento energético no Brasil será servido por recursos renováveis, na visão dele. —E você tem as energias renováveis mais clássicas, como eólica, solar, geotérmica, biocombustíveis e ainda a biomassa —destacou, após também apontar que a demanda por energia no País aumenta com o desenvolvimento.
Ao encerrar sua apresentação, o executivo ressaltou que as regiões do mundo geralmente têm oportunidades diferentes. —Trabalhamos no Brasil com a matriz que temos aqui, que não são aplicáveis de forma alguma com Holanda ou Bélgica ou Alemanha ou Reino Unido ou Estados Unidos ou Canadá, pois têm diferentes ativos naturais—. —Além disso, novas tecnologias serão desenvolvidas em um ritmo diferente, e os países dependem de recursos e do apetite para assumir riscos e do dinheiro disponível para esses investimentos. —Existem muitas oportunidades, mas não o suficiente —acrescentou.
Mais cedo, em sua fala na cerimônia de abertura, Olivier Wambersie apontou a importância da conferência para se discutir os desafios da transição para um futuro energético, ecológico, mais limpo e sustentável. Destacou que “a urgência nunca foi tão grande”, ao mesmo tempo em que lembrou da importância de se ter cautela para não colocar em risco a sustentabilidade das empresas energéticas.
—O objetivo net zero permanece inalterado. Quem pode não querer um sistema energético mais sustentável e limpo para todos? Podemos discutir o caminho a seguir e o ritmo para chegar lá, mas há muitos desafios complexos: técnicos, ambientais e da sociedade—disse.
Também lembrou que, há alguns meses, o mundo foi definido como ‘Vuca’, palavra que é um acrônimo em inglês que significa volátil, incerto, complexo e ambíguo. Contudo, mais recentemente, este acrônimo deu lugar a outro: ‘Bani’, também do inglês significando brittle, anxious, nonlinear e incomprehensible (fragilidade, ansiedade, não-linear e incompreensível). E é nesse contexto que a transição energética terá que transitar.
A palestra de Olivier Wambersie foi apresentada pela Líder de Projeto de Tecnologia Shell Brasil, Camila Farias. A conferência ETRI 2023 acontece até amanhã, quinta-feira. Promovido pelo RCGI e patrocinado pela Shell Brasil, o evento reúne cientistas, representantes do governo e executivos de grandes empresas, do Brasil e do exterior. As inovações tecnológicas e as políticas públicas necessárias para a descarbonização do setor energético no Brasil pautam as principais discussões.
RCGI —O Centro de Pesquisa e Inovação em Gases de Efeito Estufa (RCGI) é um Centro de Pesquisa em Engenharia, criado em 2015, com financiamento da FAPESP e da Shell Brasil e outras empresas por meio dos recursos previstos na cláusula de P,D&I da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) dos contratos de exploração e comercialização de petróleo e gás. Atualmente estão em atividade cerca de 60 projetos de pesquisa, ancorados em sete programas: NBS (Nature Based Solutions); CCU (Carbon Capture and Utilization); BECCS (Bioenergy with Carbon Capture and Storage); GHG (Greenhouse Gases), Advocacy, Innovation Power Systems e Decarbonization. O centro, que conta com cerca de 600 pesquisadores, mantém colaborações com diversas instituições, como Oxford, Imperial College, Princenton e o National Renewable Energy Laboratory (NREL), além de projetos de longo prazo com centros de pesquisa dos Estados Unidos por meio da iniciativa Center 2 Center (C2C), financiada pela FAPESP e pela National Science Foundation. Saiba mais.