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07/11/2023

A Campanha do Novembro Azul em 2023

O câncer da próstata é o segundo mais frequente entre os homens, ficando atrás apenas do câncer de pele não-melanoma. A campanha do Novembro Azul objetiva eliminar o preconceito contra a realização dos exames de rastreamento, especialmente o exame de toque retal, mas traz também a lembrança de que a saúde masculina como um todo precisa ser revista.

Os homens apresentam expectativa de vida inferior à das mulheres em todos os países do mundo, em algumas regiões chegando a uma diferença de 14 anos. Para quase todas as doenças que acometem ambos os sexos, os homens possuem taxas de complicações e de mortalidade superiores. Vários motivos são apontados para explicar esse achado, quase todos relacionados a fatores culturais que podem ser revertidos, especialmente a falta de cuidados preventivos, como o hábito de se consultar com um médico e os cuidados alimentares. Sendo assim, também é tarefa do Urologista verificar se o homem está atento à sua saúde de forma mais abrangente.

Inegavelmente, o câncer de próstata acaba sendo o fator motivador para que o homem procure atenção médica. Estima-se que em torno de 1 a cada 7 homens (15%) apresentarão a doença em algum momento e aproximadamente 1 em cada 38 (2,6%) irão falecer em decorrência dela. Embora existam algumas controvérsias a respeito da necessidade de se rastrear todos os homens com o toque retal e a dosagem de PSA no sangue, o rastreamento do câncer de próstata reduz a sua mortalidade em cerca de 30%. Quando tratados precocemente, 97% dos pacientes apresentam sobrevida livre do câncer em 5 anos, sendo apenas 30% quando já existem metástases.

O rastreamento permite o diagnóstico precoce e um tratamento mais eficaz, contudo, ele não impede que a doença venha a se estabelecer. Essa é uma questão crucial quando é discutido o termo “prevenção” do tumor prostático. Sabemos que os fatores de risco envolvem questões genéticas, para as quais ainda não podemos agir, além de fatores relacionados aos hábitos de vida, que podem ser modificados.

Estudo recente demonstrou que afro-americanos apresentam quase o dobro do risco de serem diagnosticados com esse tumor e de falecerem da doença, quando comparados com homens brancos. As razões para essa observação não estão completamente claras, uma vez que diferenças raciais podem ser consideradas construções sociais. Fatores genéticos ligados à ancestralidade e à origem geográfica, questões ambientais e socioeconômicas podem estar envolvidos. Filhos e irmãos de portadores do câncer de próstata possuem risco 2,5 vezes maior. Curiosamente, homens mais altos possuem também maior chance de apresentarem a doença, possivelmente devido a características hormonais durante a puberdade.

Estudos prospectivos correlacionaram a obesidade com maior risco de câncer de próstata mais agressivo. Também foi encontrada maior mortalidade nos pacientes obesos tratados tanto com radioterapia, quanto com cirurgia. Fatores hormonais podem estar implicados, além de dificuldades técnicas para o tratamento. Em estudos experimentais com modelos de câncer da próstata em camundongos, também se observa crescimento acelerado do tumor nas situações em que a obesidade está presente.

Somando-se a essas evidências, há também correlação entre a ingestão elevada de gordura animal e o risco do câncer de próstata. Comprovou-se que vegetarianos têm menor risco de desenvolver a doença do que os comedores de carne. O possível efeito protetor dos vegetais parece ser um fator de menor importância do que o provável efeito maléfico da ingestão aumentada de carne. Não parece haver correlação entre o risco da doença e a ingestão global de proteínas, mas o alto consumo de derivados do leite parece aumentar o risco, assim como de alimentos ricos em gorduras trans.

O consumo de álcool e o hábito de fumar, surpreendentemente, não parecem estar envolvidos com maior risco de desenvolver o câncer de próstata. Todavia, devido à evidente correlação desses hábitos com inúmeras doenças oncológicas e cardiovasculares, não se pode menosprezar o efeito maléfico do alcoolismo e do tabagismo nos índices de mortalidade, independente do sexo do indivíduo. Além disso, fumantes têm maior risco de desenvolver um câncer de próstata letal do que os não fumantes.

Uma pergunta frequente diz respeito à atividade sexual e o risco para o câncer prostático. Não há conclusões definitivas sobre o assunto, mas sabe-se que a idade mais tardia de início da vida sexual relaciona-se com menor risco da doença, assim como o menor número de parceiras sexuais. Por outro lado, a frequência elevada de ejaculações (>21/mês) foi associada a um menor risco de desenvolver a doença. Homens casados também apresentaram menor risco do que os solteiros.

A essência da campanha Novembro Azul envolve o estímulo à população masculina para a realização de consultas médicas periódicas, mas também visa promover a adoção de hábitos de vida saudáveis, a prática de atividade físicas e a alimentação balanceada. O exemplo de cuidados preventivos dado pelas mulheres deve ser seguido pelos homens que desejam usufruir de mais qualidade de vida. Consulte sempre seu Urologista.

. Por: Daniel Xavier Lima, coordenador do Serviço de Urologia do Biocor/Rede D’Or, professor da Faculdade de Medicina da UFMG. | Referência: European Urology, Volume 84, Issue 2, August 2023.