Existem pelo menos duas maneiras de abordar o tema microcrédito no Brasil. Uma, técnica – e aqui não vamos fugir dela -, se prende aos aspectos econômicos e administrativos do país, sua performance, o próprio momento global, inflação brasileira e estrangeira, o apetite do tomador de crédito, o novo perfil do consumidor e, não há como deixar de mencionar, a política de juros, além de mais uma imensa quantidade de variáveis.
E há uma abordagem que desvenda a alma dessa operação: estamos tratando de uma ferramenta que, quando chega às mãos de quem precisa, pode operar mudanças significativas na vida de uma pessoa. Pode ser aquele empurrãozinho que faltava no negócio que gera renda para a família, pode ser aquele combustível necessário para atravessar um momento mais delicado da vida financeira, pode servir para concluir uma casa. O microcrédito é inclusivo.
Voltando ao lado técnico, também é possível afirmar que essa modalidade de empréstimo pode ter um papel relevante na economia como um todo, dando impulso a pequenos negócios e fazendo a roda da economia girar com mais intensidade. Então, por que o microcrédito não se disseminou no Brasil com a abrangência que imaginamos possível? Muitos fatores podem explicar essa situação e outros tantos nos trazem otimismo já para um futuro próximo, mas é preciso que os diversos atores façam sua lição de casa.
O mundo no período pós pandemia viu a inflação subir e os bancos centrais, depois de um período em que irrigaram com dinheiro abundante suas economias, reagiram com taxas de juros mais altas, com aperto. O Brasil, calejado no tema carestia, reagiu forte e cedo. O dinheiro ficou caro. Nos últimos meses, no entanto, houve várias boas notícias para o país na área econômica, que fazem crer que teremos confiança da parte do mercado e, em consequência, taxas de juros em trajetória descendente.
Também com o objetivo de ampliar o acesso ao crédito, fazem falta iniciativas de educação financeira que cheguem ao tomador dessa modalidade de empréstimo. Com orientação sobre seu bom uso certamente haverá queda nas taxas de inadimplência, inimigas históricas de taxas mais acessíveis. Aqui é preciso um esforço dos players do mercado, em conjunto com autoridades. Por que não levar o tema para as salas de aula, como uma disciplina de que muita gente vai fazer uso por toda a vida?
Do lado das autoridades, iniciativas que equacionem dívidas e tragam de volta ao mercado centenas de milhares de consumidores são mais que bem-vindas, desde que feitas com responsabilidade.
De nosso lado, do setor de crédito, temos de continuar nosso movimento em busca de inovações e produtividade, com o objetivo de ampliar nossa competitividade e tornar nossas operações mais eficientes para chegar a um número cada vez maior de negócios, de pessoas. Só assim o microcrédito vai incluir setores amplos da sociedade brasileira. Existem desafios, mas também oportunidades. É a hora de nos unirmos, arregaçar as mangas e trabalhar. As pessoas do Brasil merecem.
. Por: Carlos Eduardo Navarro Ribeiro, CEO da Crefaz, empresa fundada em 2013 com o objetivo de oferecer crédito a um público não assistido pelas instituições financeiras tradicionais.