Enfrentando seca histórica, a região norte do país ganha os noticiários e protagoniza cenas poucas vezes vistas no país, aumentando a incerteza de quem navega nos rios da região. O principal motivo é que, devido à estiagem, o nível dos rios está muito baixo, afetando a navegação e a capacidade de transporte.
De acordo com o Monitoramento Hidrológico da Bacia do Amazonas, até o presente momento o nível atual do rio Negro, em Manaus, é de 1288 cm. Já o nível do Rio Branco, no rio Acre, é de 145 cm. Em Porto Velho, o nível atual do rio Madeira é de 136 cm. Ainda segundo o documento, até 25 de outubro era possível observar o quadro de chuvas abaixo da climatologia predominando em toda região norte do país, com todas as bacias monitoradas apresentando déficit de precipitação, com exceção da bacia do Branco, indícios de ocorrência de chuvas mais intensas no Branco, Negro, alto das bacias do Napo, Marañon, Ucayali e Madre de Dios e também no baixo Madeira.
O boletim mostra também que os fenômenos El Niño, provocado pelo aquecimento das águas superficiais do Oceano Pacífico, e o aquecimento das águas superficiais do Atlântico Tropical Norte são fatores que reduziram a formação de nuvens e, por consequência, o volume de chuvas.
A estiagem não atingiu o seu maior nível histórico, com exceção do Rio Negro, mas o que causou a apreensão dos especialistas é que o nível dos rios baixou em ritmo muito acelerado. No entanto, nos últimos dias os especialistas já começaram a verificar uma tendência à estabilização e subida dos rios.
Segundo a Associação dos Terminais Portuários e Estações de Transbordo de Cargas da Bacia Amazônica (Amport), houve a redução em até 50% na capacidade de carga dos comboios de graneis nos rios da região. Mesmo assim, o volume transportado até agora (setembro) em 2023 supera em cerca de 24% o transportado no mesmo período em 2022. Diante das restrições impostas pela seca intensa, terminais portuários se mobilizaram para redefinir estratégias e garantir a continuidade dos transportes fluviais com segurança e efetividade.
—Os rios do baixo Amazonas, como é o caso do Tapajós, dependem das águas das chuvas para aumentar a vazão e qualquer estiagem impacta severamente na diminuição do nível da água disponível. Diante disso, estamos adotando algumas medidas sérias para otimizar a navegação na localidade, procurando causar o menor impacto no transporte de cargas para o Brasil e para o exterior— explicou Flávio Acatauassú, diretor-presidente da Amport.
Entre as iniciativas estão a diminuição da folga abaixo da quilha; a troca de empurradores por equipamentos de menor calado, o desmembramento do comboio nos pontos críticos, e a sondagem e a delimitação diária do canal de navegação no momento em que o empurrador sai com o comboio. A expectativa é de que o Rio Tapajós volte a sua vazão normal para esta época do ano ainda nas próximas semanas, a exemplo do que já está ocorrendo com o Madeira e o Solimões.
—Temos a expectativa de que com o começo das chuvas já ocorrendo na região, não atingiremos a situação crítica de reduzir ainda mais o volume de nossas operações. Continuamos a trabalhar incansavelmente para que o transporte de cargas em nossa região não seja prejudicado — finalizou Acatauassú.