A abordagem do Mundo Open está começando a impactar praticamente toda a economia. Por englobar tecnologias e ferramentas onde os custos de integração, acesso a dados e determinados serviços ou autenticação de transações são drasticamente derrubados e democratizados, abre-se um horizonte incrível de maior colaboração entre negócios e da automação de processos e jornadas.
Agora, é a vez do mercado de capitais começar a acessar essa mudança de paradigma.
Primeiramente, com a estreia da fase 4 do Open Finance, ao que se está chamando de Open Investments, inicia-se o compartilhamento de dados de investimentos, câmbio e credenciamento entre instituições financeiras, ao que se seguirá com informações de crédito, seguros e previdência. Em uma primeira etapa, clientes passaram a poder autorizar o compartilhamento de dados patrimoniais custodiados em bancos. Em breve, esse processo incorporará a iniciação desses serviços, permitindo que terceiros, com autorização dos clientes, operem esses recursos de modo independente da instituição detentora da conta corrente correspondente.
Entretanto, o Open Investments engloba apenas as transações entre instituições bancárias reguladas e não contempla o vasto mundo dos investimentos em que figuram fundos, corretoras e agentes autônomos.
Nesse contexto, entra em cena o Open Capital Market. Liderada pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), gradualmente deve envolver o vasto universo do mercado de capitais, mercados de dívida e operações estruturadas (fundos, futuros ou derivativos, por exemplo), atingindo figuras como corretoras de valores, gestores de fundos e agentes autônomos.
As regras do Open Capital Markets ainda não foram divulgadas, mas a CVM recém divulgou Consulta Pública para receber sugestões sobre as regras a serem implementadas. Todavia, o potencial da iniciativa é extraordinário.
Uma revolução nos mercados de balcão (notoriamente dívida e fundos) e uma multiplicação dos instrumentos disponíveis para operações estruturadas nos mercados listados (bolsa, futuros, etc) são viabilizadas ao integrar agentes e produtos do mercado de capitais aos conceitos de autorização remota, iniciação de serviços e operações em tempo transacional. Apenas para fazer um paralelo, foi o fato de ações serem transacionadas de forma eletrônica em tempo transacional criou uma profundidade de produtos como ETF (Exchange-Traded Fund), Derivativos Futuros e Operações Compromissadas. E com operações de balcão passando a ser transacionadas de modo totalmente digital nos moldes do Open Finance, o Open Capital Market reproduz esse mesmo potencial de aprofundamento para os mercados de dívida, fundos e nos mercados de recebíveis (FIDCs)
O resultado é uma melhora da diluição de risco, operações de hedge mais precisas e maior liquidez nos papéis, resultando em uma precificação mais adequada de ativos e passivos.
Mas além da melhora dos instrumentos típicos do mercado de capitais, o modelo amplia o potencial de clientes no mercado. Embora a regulação ainda não tenha sido definida, o uso de iniciações de investimento ou assinaturas digitais no processo devem levar os instrumentos de poupança para o cotidiano de pessoas físicas e, sobretudo, empresas. Segundo dados da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), cada vez mais brasileiros estão investindo em produtos financeiros e a perspectiva é que essa trajetória de alta continue. O percentual de investidores passou de 31% da população, em 2021, para 36% em 2022 – e esse novo patamar corresponde a um acréscimo de 8 milhões de brasileiros, totalizando 60 milhões de investidores no país.
Ao mesmo tempo, as transações digitais estão em alta e ganham cada vez mais espaço no universo dos investimentos. Nada menos que 43% dos investidores usaram aplicativos para realizar aplicações em 2022, o que mostra que a inovação tem muita aderência junto ao público investidor. Para 2023, há tendência de alta na captação de recursos: no primeiro trimestre do ano, foram captados R$ 21,5 bilhões e, no trimestre seguinte, R$ 40,6 bilhões. Com números tão impressionantes, concluímos que o Mundo Open é um terreno fértil repleto de oportunidades.
Um exemplo para o público B2C poderia ser o registro de ativos financeiros como colaterais de operações de crédito, com a vantagem de obter operações de crédito rápidas e com baixíssimo risco, sem desmobilizar investimentos financeiros de médio e longo prazo.
No universo B2B, o acesso é ainda menor, potencializando um potencial de acréscimo de produtos e sofisticação para a tesouraria das empresas que pode significar uma melhora substancial de custos e acesso a capitais. Como exemplo de uso, cito a integração do processo de iniciação de transações em empresas que descontam recebíveis em FIDC (Fundo de Investimento em Direitos Creditórios). A iniciação é capaz de prover a confirmação pelo tomador (sacado) de cada transação realizada, com o direcionamento de recursos para qualquer conta ao nível transacional, reduzindo riscos de fraude e viabilizando a securitização desse tipo de operação de modo totalmente digital.
O Capital Market no Mundo Open deverá abrir novas fronteiras para a inovação e os negócios no mercado financeiro, trazendo mais proteção à transparência ao cliente, à privacidade de dados e à segurança das transações. E para isso, é de extrema importância contar com um agregador eficiente de fluxos de dados.
. Por: Juan Ferres, CEO da Teros.