Normas de segurança utilizadas na indústria estão sendo aplicadas para a escala laboratorial. Iniciativa é inovadora no âmbito acadêmico.
De maneira inovadora no âmbito acadêmico, o Centro de Estudos de Energia e Petróleo (Cepetro), da Unicamp, está desenvolvendo protocolos de segurança para aplicação em todos os seus dez laboratórios. A iniciativa tem o objetivo de adaptar as normas adotadas em escala de indústria para uma escala laboratorial, e foi introduzida a partir de uma demanda das empresas que financiam os projetos de pesquisa com o Cepetro.
Os protocolos partem da mesma premissa da indústria de óleo e gás: segurança em primeiro lugar. Eles estão ancorados nos cinco riscos da segurança do trabalho: físico, químico, biológico, ergonômico e de acidentes.
—Riscos biológicos são pouco prováveis, devido à natureza da atuação do Cepetro. Nossa preocupação é maior com riscos provenientes da temperatura, principalmente pelo aquecimento de líquidos em grandes volumes de fluidos, e de pressão, sobretudo pela possibilidade de mangueiras se romperem em circuitos experimentais pressurizados. Também há os riscos químicos, pois trabalhamos com diferentes tipos de fluidos, alguns tóxicos e inflamáveis, e os de acidentes, devido ao trabalho com máquinas e a realização de atividades em altura. Em menor grau estão os riscos ergonômicos [como monotonia, repetitividade e postura inadequada], naturais de trabalhos de escritório— explica Driély Rocha Hais, técnica de segurança do trabalho do Cepetro.
Ao final do processo, que está em estágio de elaboração para alguns laboratórios e de aplicação em outros, cada laboratório contará com um protocolo próprio, em função dos seus diferentes riscos e suas particularidades. Esses protocolos estão sendo aplicados em inspeções regulares. “São introduzidas orientações sobre, por exemplo, qual o equipamento de segurança mais apropriado para cada experimento ou ambiente, como classificar e relatar um acidente [para evitar reincidências], como socorrer um trabalhador acidentado, a necessidade de entrar acompanhado nos laboratórios e como descartar resíduos”, detalha Hais.
Essas normas estão sendo elaboradas com base em regulamentos nacionais e internacionais de segurança do trabalho, específicos e não específicos para o setor energético, além de normas preexistentes da Unicamp e da Funcamp (Fundação de Desenvolvimento da Unicamp).
Referência em segurança – Os protocolos já estavam em desenvolvimento e, com a criação da Comissão de Segurança, Saúde e Meio Ambiente em 2020, passaram a ser mais bem gerenciados. No ano passado, sua aplicação foi acelerada com a contratação da técnica de segurança, que trabalha em tempo integral nos laboratórios.
—Apesar de os protocolos ainda não terem sido finalizados, hoje eles já estão sendo aplicados e os riscos estão mapeados. Quando uma atividade é planejada, a Comissão é acionada e eu acompanho os experimentos e avalio os riscos e o que os pesquisadores e técnicos precisam fazer para preveni-los. Além disso, temos um profissional em tempo integral para fazer pequenas manutenções nos equipamentos e assim evitar riscos químicos e de acidentes —detalha a técnica.
Desta forma, o Cepetro, além de ser referência em pesquisas de excelência na área de O&G, está se tornando referência na cultura de segurança, saúde e meio ambiente na academia, tanto para outras instituições como para as empresas do setor. —A atuação de uma técnica de segurança com experiência na indústria é algo novo em instituições de pesquisa. Ter isso é essencial não só para o desenvolvimento e a aplicação dos protocolos como para a implantação de uma cultura voltada para a segurança — algo consolidado na indústria, mas pouco disseminado na academia — para que os técnicos e os pesquisadores orientem uns aos outros sobre o cumprimento das normas— afirma.
Treinamento contínuo — Em 2022, foram introduzidos materiais de sinalização de segurança, que são advertências para as pessoas que estão entrando no laboratório ficarem cientes dos riscos que certos equipamentos e experimentos possam ter e como evitá-los. Em seguida, passaram a ser realizados diálogos de segurança. —São reuniões mensais de uma hora que faço periodicamente em cada laboratório para instruir os pesquisadores sobre os protocolos e as exigências legais e normativas—.
Foi criado também um sistema para identificar acidentes, além de quase acidentes, que são ocorrências inesperadas que não causam danos à saúde e ao patrimônio do laboratório, mas que indicam a necessidade de solução de um problema.
Além disso, estão sendo promovidos treinamentos de primeiros socorros e de formação de brigadistas (profissionais que serão responsáveis por prestar socorro em emergências). Em breve, será criado um cronograma anual para treinamentos específicos. —Iremos fazer reuniões mensais com os laboratórios no intuito de trazer conceitos chave da segurança do trabalho, como o que é a avaliação de um perigo e quais são as diferentes classificações de acidentes, além das boas práticas para o descarte de resíduos, de acordo com as diretrizes da Unicamp— finaliza.
O Centro de Estudos de Energia e Petróleo (Cepetro) é um centro de pesquisa da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), com mais de 35 anos de história, focado em petróleo, gás, energias renováveis e transição energética. Instalado, atualmente, em cinco prédios com mais de 5 mil metros quadrados de área, possui dez laboratórios próprios e conta com mais de 350 pesquisadores. Além de executar projetos de pesquisa e desenvolvimento (P&D), o Cepetro presta serviços técnicos e de consultoria, forma recursos humanos altamente qualificados e promove a disseminação do conhecimento. Seus projetos de P&D são financiados por empresas, fundações e agências governamentais de fomento à pesquisa. O Cepetro é um dos maiores captadores de recursos via cláusula de PD&I da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).