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20/10/2023

O mercado de data center sob holofotes

O ano era 2009 e o Banco Santander anunciava um investimento pesado em um data center localizado na Cidade de Campinas (SP), de olho no crescimento projetado por seus analistas para os próximos anos. Ele não era o único. O Itaú seguiu seus passos cerca de um ano depois, inaugurando um data center em Mogi Mirim (SP). Entretanto, há quase quinze anos, ninguém imaginava todas as reviravoltas que viriam em termos de tecnologia. Virtualização de servidores ainda era algo incipiente nos data centers e computação em nuvem algo pouco conhecido e nada difundido.

Não sabíamos o que nos esperava.

A tecnologia evoluiu, o mundo enfrentou mudanças, crises e uma pandemia e hoje vivemos em um cenário totalmente diferente de todas as projeções daquela época. Mas os bancos não estavam errados: os data centers continuam sendo uma infraestrutura imprescindível para o crescimento de qualquer negócio e se mantém como um elemento cada vez mais crítico, impulsionado sobretudo pelo aumento exponencial do uso da tecnologia e o crescimento vertiginoso dos dados.

De acordo com um estudo realizado pela Arizton Advisory & Intelligence, o mercado de data centers na América Latina deve ultrapassar a marca de US$ 7,8 bilhões até 2026, com uma taxa de crescimento anual composta de 7,6%. O Brasil lidera esses investimentos, sendo responsável por 40% deles.

São várias as razões que contribuem para esses números: a adoção da nuvem em larga escala alimentada pela transformação digital das empresas, a disseminação do 5G (e o consequente aumento de tráfego de dados gerado pela Internet das Coisas, realidades virtual e aumentada, Machine Learning, Big Data, entre muitas outras tecnologias), o cenário geopolítico mundial e até mesmo a disparidade entre a oferta e demanda não atendida no Brasil. Todos estes são fatores importantes, mas gostaria de destacar especialmente a popularização e disseminação do uso da Inteligência Artificial nos últimos anos como fator preponderante para que as empresas percebessem a necessidade de investir pesadamente em data centers de última geração.

Esta tecnologia vem se tornando o principal motor dos investimentos devido ao caráter excepcional da infraestrutura computacional associada ao treinamento e à execução de modelos avançados de IA como os LLMs (Large Language Models). Redes neurais profundas podem possuir bilhões de parâmetros e exigem enormes quantidades de poder de processamento para seu treinamento, algo que os data centers mais antigos simplesmente não estão preparados para suportar.

Data centers planejados para suportar esses cálculos massivos demandam altíssima capacidade de energia para alimentar estas cargas computacionais, que podem chegar a ser 10 a 20 vezes maiores que a de um data center tradicional. Da mesma forma, necessitam de mecanismos não convencionais de refrigeração como, por exemplo, refrigeração líquida. Finalmente, são projetados para armazenar e gerenciar grandes volumes de dados, tornando-os grandes consumidores de recursos computacionais.

À medida que a IA evolui e se difunde para novas aplicações em diversas indústrias, a demanda por capacidade de processamento e armazenamento em data centers também aumenta numa velocidade que nenhum país no mundo hoje está preparado.

Como resolver este problema onde serviços de inteligência artificial ganham milhões de usuários em uma semana, mas os data centers que os suportam são construídos em anos? Como uma resposta da indústria, o relatório da Arizton Advisory & Intelligence, aponta que a construção modular de data centers deve adicionar investimentos significativos no mercado e pode ser um fator importante de equilíbrio neste cenário. Isso porque ela é energeticamente eficiente mesmo sendo projetada para sustentar altas densidades de potência demandados pela IA. Além disso, a construção modular pode economizar até 50% do tempo de implantação, acelerando o acesso dos usuários ao recursos, e seu custo de operação pode ser de até 30% menor que as instalações tradicionais.

Observando o cenário global com guerras, crise de energia e busca por sustentabilidade, vejo a ascensão consistente de data centers no Brasil. Ainda temos uma limitada oferta de capacidade, há disponibilidade de grandes áreas para desenvolvimento de projetos, temos a ausência de grandes desastres naturais, existe relativa estabilidade geopolítica e uma matriz energética limpa.

Que podemos pedir mais? Talvez apenas a avaliação inteligente de alternativas de implementação para esta nova geração de data centers buscando eficiência através de técnicas de construção modulares para acelerar o time to market e otimizar a alocação de recursos.

A expectativa é que cada vez mais investimentos sejam destinados ao país para desenvolvimento de grandes projetos focados em atender a clientes locais e a grandes empresas de tecnologia mundiais.

Parece que temos pela frente um céu azul de brigadeiro… temos tudo pra voar.

. Por: Marcos Paraíso, VP of Business Development da Modular.