A Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) divulgou a revisão da balança comercial brasileira no dia 19 de julho (quarta-feira), onde projeta exportações em US$323,937 bilhões, redução de 3% ante o ano de 2022. As importações devem ficar em US$237,465 bilhões, queda de 12,9% em relação aos US$272,610 bilhões alcançados em 2022. Já o superávit comercial deve registrar US$86,472 bilhões, aumento de 40,5% em relação aos US$61,526 bilhões obtidos em 2022.
De acordo com a Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), menos impactantes que em anos anteriores, em 2023 tem sido observadas oscilações “civilizadas” de preços e quantum nas operações de comércio exterior, sem a ocorrência de generalizadas alterações bruscas e imprevistas. Com isso, as estruturas dos parâmetros para elaborar projeções estão mantendo um grau adequado de segurança, devido à inexistência de fortes oscilações, para cima ou para baixo, em curtíssimo prazo. Não obstante estas observações, as projeções para revisão da balança comercial de 2023 levaram em consideração o cenário presente e as sinalizações futuras, sob a perspectiva de preços e volumes.
Cenários considerados — A pandemia, a guerra Ucrânia e Rússia, a desaceleração econômica mundial, a realocação industrial no mundo em transição, a inflação mundial, a definição dos níveis das taxas de juros, os bloqueios na China, o desiquilíbrio no fornecimento de insumos básicos, as oscilações das cotações das commodities, entre outros cenários e fatores, permanecem sendo considerados na revisão da balança comercial para 2023.
Apesar de ter arrefecido seus efeitos negativos, a pandemia continua sendo fator de incertezas, com a economia e o comércio mundial ainda sendo impactados indiretamente pela covid-19, afetando seus níveis de desenvolvimento, empregos e investimento.
Tomando-se como base estes conjuntos de fatores, após as commodities terem atingido elevadas cotações, neste momento ocorre uma acomodação generalizada de preços em 2023, em patamares variáveis, reflexo do atual cenário econômico e geopolítico vigente.
Mesmo considerando-se estes cenários, as cotações das commodities ainda alcançam patamares considerados elevados, beneficiando diretamente o Brasil.
O aspecto negativo é que o Brasil torna-se ainda mais dependente das exportações de commodities, produtos com níveis reduzidos de agregação de valor, sobre os quais o Brasil e suas empresas exportadoras não têm controle de seus preços e quantum, ficando na dependência de decisão dos importadores, normalmente países desenvolvidos que fazem valer sua larga tradição de negociação internacional.
Enfim, um conjunto de fatores que se entrelaçam serão responsáveis por contribuir para recolocar a economia mundial nos trilhos do desenvolvimento econômico, mitigando riscos e maximizando decisões em favor da volta à normalidade.
Neste momento de incerteza, insegurança, indefinição e imprevisibilidade é preciso mitigar seus efeitos negativos para criar condições positivas para reverter o atual quadro.
Definir o amanhã torna-se quase um exercício de futurologia, pois o novo mundo geopolítico, econômico e ambiental que se vislumbra será de grandes desafios para o mundo.
Por fim, deve-se considerar as perspectivas que poderão advir de uma possível e necessária aprovação da reforma tributária.
Revisão das projeções para 2023 — A revisão das projeções para o comércio exterior brasileiro em 2023 foi realizada tendo como base o cenário presente, passível de oscilações, para cima ou para baixo, com impactos diretos sobre seus resultados.
Superávit comercial brasileiro — Para 2023, são projetadas exportações de US$323,937 bilhões, redução de 3% em relação ao montante de US$334,136 bilhões apurado em 2022, enquanto as importações estão previstas em US$237,465 bilhões, queda de 12,9% em relação aos US$272,610 bilhões alcançados em 2022,e superávit de US$86,472 bilhões, aumento de 40,5% em relação aos US$61,526 bilhões obtidos em 2022.
José Augusto de Castro, presidente da AEB
— Apesar de as exportações e importações estarem indicando quedas em 2023, ainda assim o superávit comercial projetado será recorde. Isto deverá ocorrer devido ao fato de a queda projetada das importações ser maior que a queda das exportações, gerando o que denominamos “superávit negativo”, pois não há contribuição para a geração de atividade econômica ou empregos— destaca a direção da AEB.
Por sua vez, como consequência das quedas duplas de exportação e importação, a corrente de comércio, projetada em US$561,402 bilhões para 2023, apresentará queda de 7,5% em relação aos US$606,746 bilhões apurados no ano anterior de 2022.
Projeções de cotações e quantum de commodities — Os dois quadros adiante mostram as projetadas cotações médias e os volumes totais das principais commodities efetivamente exportadas pelo Brasil em 2022 e projetadas para 2023, que impactam diretamente as receitas de exportação.
Projeções das cotações médias em US$/toneladas — Conforme mostra o quadro acima, exceção feita a carne suína e açúcar, as demais principais commodities exportadas pelo Brasil sinalizam queda de preços em 2023, cenário que contribuirá para a pequena redução de 3% das exportações e para o aumento do superávit comercial.
Projeções dos volumes totais em toneladas — Em contrapartida, sob a ótica do quantum, os dados apresentados na tabela anterior mostram mais aumentos e menos reduções dos volumes totais projetados para exportação das principais commodities pelo Brasil.
Chama a atenção o fato de os três principais produtos de exportação, soja, petróleo e minério de ferro, que representam mais de 35% das exportações totais do Brasil, projetarem aumento em seus volumes de exportação, impactando a receita total de exportações e contribuindo para amenizar a redução das receitas de exportação decorrente da queda das cotações destes mesmos produtos.
Este cenário torna-se importante quando se verifica que as exportações de soja e petróleo projetam quedas expressivas de preço e aumentos de volume, amenizando seus impactos isolados.
Particularidades: Em 2023 as exportações de soja em grão deverão atingir o recorde de 98 milhões de toneladas, com aumento de 24% em relação às 79 milhões de toneladas exportadas em 2022, graças à grande safra colhida no corrente ano;
Em 2023 a soja em grão vai manter a liderança das exportações brasileiras, pela primeira vez devendo ultrapassar a barreira de US$50 bilhões, mais precisamente US$50,546 bilhões, graças à safra recorde colhida, e apesar da queda de 12,7% nas cotações;
Não obstante as quedas simultâneas das exportações e importações, o comércio exterior brasileiro contribuirá de forma positiva no cálculo do PIB de 2023;
Soja em grão, petróleo em bruto e minério de ferro terão sua participação nas exportações brasileiras em 2023 estimadas em 35,9%, levemente superior aos 35,3% alcançados em 2022;
Uma vez mais, dentre os 15 principais produtos exportados pelo Brasil 14 são commodities, exceto automóveis, ratificando a falta de competitividade dos produtos manufaturados;
A taxa cambial ainda deverá ser motivo de altas e baixas em 2023, num mercado volátil e sujeito a fatores externos e internos impactando suas cotações, que devem oscilar entre o mínimo de R$4,70 e o máximo de R$5,20, sendo R$4,90 a taxa mediana;
Os dados projetados de exportação e importação para 2023 indicam que o Brasil deverá permanecer na atual 26ª posição no ranking mundial de exportação, situação similar a observada com as importações;
Em 2022, a balança comercial brasileira de produtos manufaturados apresentou déficit de US$128 bilhões, com a expectativa de redução ao final do ano de 2023 decorrente da forte queda das importações;
A manutenção deste resultado negativo da balança comercial brasileira de produtos manufaturados mantém sua continua queda de participação na pauta de exportações, gerando exportação de empregos e importação de desemprego estimados em 4 milhões de postos de trabalho, considerando-se que para cada US$1 bilhão de exportação ou importação são gerados estimados 30 mil empregos diretos, indiretos e induzidos, além de perda de divisas;
— Ao contrário do que ocorreu em 2022, que foi impactado por generalizadas elevações de preços decorrentes da guerra Rússia e Ucrânia, em 2023 está acontecendo o contrário, com acomodação de suas cotações, que voltam aos níveis pré-guerra— observa a associação.
Futuro do Brasil e do comércio exterior — O futuro do Brasil e do comércio exterior em particular continuam dependentes da realização de duas tarefas indispensáveis: aprovar as reformas estruturais e reduzir o Custo-Brasil.
— A ausência de concretização destas reformas é responsável pelas exportações de commodities serem destaque na pauta de exportação, ao contrário dos produtos manufaturados, que permanecem com reduzida participação— frisa a AEB.
— No momento em que a reforma tributária superou seu primeiro obstáculo, resta a expectativa de que outros desafios sejam ultrapassados e novos horizontes se abram no comércio exterior brasileiro— continua.
— Mais do que nunca, o futuro do Brasil depende de nós, brasileiras e brasileiros— conclui a AEB.