Especialista em ecossistemas de softwares que integra dados para gestão de pessoas fala sobre o futuro do RH.
Em 1984, uma franquia, atualmente considerada clássica do cinema, estreava nas telonas. Vendendo 78,48 milhões de dólares em bilheteria, “O Exterminador do Futuro” já abordava um assunto que hoje ocupa inúmeras pautas nos jornais e até conversas entre amigos: a Inteligência Artificial.
Mas, assim como em 1975 o filme “Tubarão”, de Spielberg, gerou um medo generalizado do animal, a obra protagonizada por Arnold Schwarzenegger também teve efeito na percepção do público com relação às tecnologias de IA.
Contudo, apesar das inúmeras teorias da conspiração sobre a implosão de uma revolução das máquinas contra os humanos, na realidade, se bem treinadas, a Inteligência Artificial e técnicas de machine learning podem tornar certas profissões ainda mais humanizadas. E o setor de Recursos Humanos é um exemplo perfeito desse cenário.
Apesar de, anos atrás, as principais preocupações do mercado estarem ao redor de questões operacionais e burocráticas, com a evolução dos debates sobre saúde mental e qualidade de vida, a visão de que é preciso mais humanização na área tem ganhado força.
Uma pesquisa realizada pela empresa Gattaz Health & Results mostra que 18% dos profissionais brasileiros sofrem com o burnout. Além disso, 43% relataram sintomas depressivos, com 13% tendo sido diagnosticados com a doença; e 24% apontaram queixas relacionadas à ansiedade. Todo esse quadro de ocorrências afeta a rotina de trabalho e a produtividade da equipe e, por isso, a gestão de pessoas tem investido em estratégias para favorecer a satisfação, motivação e engajamento com o objetivo de diminuir esses casos.
Para mais, os próprios profissionais vêm buscando por empresas que valorizam esse lado mais humanizado, chegando a deixar de lado oportunidades que não estejam de acordo com essa visão. Uma pesquisa recente realizada pela consultora especializada em recrutamento e seleção XYZ entrevistou milhares de brasileiros para entender o que os trabalhadores buscam nas instituições em que atuam. Os participantes destacaram a importância de um bom ambiente de trabalho, com oportunidades de crescimento profissional e benefícios, como planos de saúde, horários de trabalho flexíveis e possibilidade de home office.
Além disso, os profissionais valorizam organizações que promovem a diversidade e inclusão, bem como aquelas que incentivam o desenvolvimento de habilidades e oferecem treinamentos constantes. Cerca de 80% dos entrevistados disseram que se sentiriam mais motivados a permanecer em uma empresa se houvesse um plano de carreira claro e transparente.
Como usar IA na humanização do RH — Avaliar características, potenciais e habilidades de pessoas, times e, até mesmo organizações, é uma medida comum na área de RH. Com base em metodologias validadas e estudadas, que permitem classificações mais certeiras, os assessment, como são conhecidas essas práticas, auxiliam as organizações na busca por áreas de melhoria, além de definir expectativas de desempenho e apoiar os funcionários em seu crescimento profissional.
Entretanto, devido ao volume de informações, sem automação, o trabalho pode ser muito repetitivo e pouco produtivo. Esse tipo de análise, quando feita por uma pessoa, pode passar por filtros inconscientes, pois uma avaliação humana sempre carrega vieses.
Nesse sentido, técnicas de machine learning possibilitam o processamento de uma quantidade de informações muito superior à capacidade humana. Treinando algoritmos com base nisso, a IA consegue identificar padrões de características de personalidade e habilidades que não seriam possíveis sem ela. E, assim, é possível melhorar a capacidade da organização de predizer performance, além de tornar o trabalho dos profissionais do setor mais preciso.
Além disso, a Inteligência Artificial evita os vieses inconscientes humanos ao longo do processo. Com o uso da tecnologia, se ela for bem treinada, com parâmetros que não envolvam características demográficas, é possível evitar discriminações que seriam cometidas por pessoas.
Para mais, o uso de Processamento de Linguagem Natural para avaliação de campos abertos de pesquisas de clima e avaliações de desempenho, chatbot com base LLM (Large Language Model) na intenção de personalizar feedbacks aos funcionários e retornos para candidatos, e modelos de machine learning na predição de turnover, compreensão de candidatos com maior potencial de performance, entre outros, são exemplos das inúmeras possibilidades que o uso da IA pode agregar ao setor.
Diante desse cenário, podemos dizer que o uso de IA e machine learning é uma tendência e acaba sendo uma necessidade em empresas em crescimento, mais complexas e avançadas. Muitas vezes, em organizações com poucos funcionários, não há nem dados suficientes para fazer análises em grande volume. Mas, quanto mais complexa e maior a informação, maior a necessidade de utilizar tecnologia para avançar a gestão de pessoas.
. Por: Thaylan Toth, CEO da Mindsight, formado em Economia e Administração, Thaylan Toth é Mestre em Psicologia Organizacional pela Universidade de Columbia, em Nova York, onde também faz parte do SIOP – Society of Industrial and Organizational Psychology. Antes de fundar a Mindsight, passou por empresas como Ambev, Fundação Estudar e Stone Co.